quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

São Paulo

Vim para São Paulo, passar as festas de fim de ano com minha família. Como todo ano, costumamos passar o natal juntos. O ano novo já é cada um por si. Nestes vim que vim para cá, aproveitei para ver alguns poucos amigos, assistir uns filmes no cinema, comprar livros, estudar e escrever um artigo científico, encontrar com os parentes, estar com meus pais e baixar vários filmes. Aproveitei também para tirar o visto para um país que, em breve, irei visitar, se Deus quiser.

Na verdade, fiquei mais em casa. Ando bastante caseiro ultimamente. Também aproveitei para ler o blog de Marta e Kuba, um casal de poloneses que conheci durante minha viagem pelo Oriente Médio, entre Abril e Junho de 2010. Somente agora descobri o blog deles, em que relatam a viagem ao redor do mundo durante 1 ano. Cruzei com eles no início de Maio de 2010. Terminaram a viagem em Agosto de 2011. Ler esse relato me fez reacender a chama de um sonho que tenho...

Na noite de natal fomos ao interior de São Paulo para passar natal com uma prima, seu marido e filha. Legal foi a esperada do papai noel, que apareceu e fez a alegria de minha priminha! Dia seguinte, relaxar, comer e dormir!

E assim se termina mais um ano. Recapitulando, fiz algumas boas viagens: em Janeiro eu estava no Sul do país, de veraneio nas praias gaúchas. Em Março, voltei a morar em Manaus, Norte do País. Uma mudança radical, neste país continental. Entre Abril e Junho fui a uma expedição científica, pelo interior da Amazônia. Foram 2 meses a bordo de um barco, navegando pelo rio Solimões, rio Javari, rio Quixito, rio Itacoaí, rio Riozinho e rio Jutaí. Em Agosto, uma rápida passagem pela Argentina, visitar meus parentes. Em Novembro, passeio por Recife durante congresso da psicologia. E, enfim, Dezembro, novamente em São Paulo. Realmente, tenho que admitir que viajo muito! Que 2012 seja repleto de viagens e ótimas surpresas!

Eu, Livia K, Eiko e Tiago.

Helo, eu e Eiko.

Papai noel e Maria Alice

Paulo, Cristina, eu, pai, mãe, Bruno e Maria Alice

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Recife - Encontro da ABRAPSO

E lá fui eu para mais uma viagem. A data do Encontro Nacional da ABRAPSO (Assoc. Bras. de Psicologia Social) foi entre 12 e 15 de Novembro de 2011. Eu havia me inscrito desde julho do mesmo ano. Tive 2 trabalhos aprovados. Então tive que ir pra lá! Comprei bilhetes promocionais da Gol, uns meses antes e por isso foi bem baratinho.

Inicialmente, falei com minha grande amiga Marjorie, para me receber na casa dela. Uma semana antes, ela avisa que vai viajar com o namorado. Me recomenda hospedar-me na casa da amiga dela, Jackeline. E assim aconteceu. É um pouco estranho ficar na casa de uma amiga da amiga, pois a gente pensa que tem uma intimidade que não existe. A anfitriã, apesar de sua TPM insuportável, me recebeu bem e dei boas risadas.

Eu já havia ido outras 2 vezes a Recife. Numa delas, passei quase 15 dias, após o término da viagem pelo rio São Francisco. Então desta vez, decidi conhecer os lugares que ainda não havia visitado. Passiei pelo centro, conheci o mercado são josé, a casa da cultura, o teatro são luiz, o recife antigo. Apenas um dia fui pra praia: Muro Alto, pertinho de Porto de Galinhas.

O congresso foi bom. Legal mesmo reencontrar os amigos. E legal também é aproveitar a vida cultural de Recife com os amigos. Além disso, assisti a uma sessão de aniversário de núcleo da União. Foi muito boa. Reencontrei alguns bons amigos também.

Enfim, fiquei por lá 1 semana. Comprei umas poucas lembrancinhas para decorar minha nova morada. Voltei já cheio de trabalho. Gostei de ter assistido o show do Tom Zé, visto uns filmes legais na mostra de cinema, aproveitado a feira do livro em Olinda, aproveitado o Recife antigo e ter dado risadas com as pessoas que conheci.

Voltei para Manaus satisfeito. Agora, que venha a próxima!

Avião

Mercado São José

Centro

Casa da Cultura - antigo presídio

Jackeline, Mavie e eu

Recife Antigo

Olinda

Marjorie, eu e Jackeline em Muro Alto

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Argentina - Tucumán

Em Agosto deste ano estive na Argentina, apenas por 1 semaninha. Foi uma passagem relâmpago pela terra de minha estimada mãe. Ela nasceu e se criou em Tucumán, ao noroeste argentino. Já faziam 5 anos que não os visitava. Eu havia prometido para mim mesmo que, assim que eu tivesse condições de tempo e dinheiro, iria passar por lá. E assim fiz no início de Agosto, após eu ter concluído mais um projeto profissional.

Peguei um voo da Gol, que parou em Porto Alegre para conexão e de lá direto a Cordoba. Meu tio nos esperava, no frio abaixo de zero!! Eu estava congelando! Recém-chegado de Manaus em SP, ainda não estava acostumado com o frio. Fui direto pra um frio forte. Quase eu viro cubo de gelo! Passamos a noite dirigindo. Ainda durante a manhã chegamos em Tucumán.

No primeiro dia, passei frio, muito frio. Só descansei e à tarde visitei meus parentes. Tive tanto frio que voltei tremendo para casa, antes mesmo do resto dos tios e primas chegarem. No dia seguinte cedinho fui comprar roupas de frio. Finalmente estava abrigado!

Nos outros dias, me encontrei com uma pretendente. Já a conhecia fazia praticamente 1 ano. Amiga da minha prima. Enquanto eu ia passear no centro da cidade, visitar os lugares históricos, eu ia conversando com ela e podendo trocar ideias pessoalmente. Tucumán é o jardim da república. Foi nesta cidade que a Argentina se tornou independente. Tem a casa histórica, onde foi proclamada a república e a primeira constituição. Além disso, há muitos artesanatos das culturas indígenas locais, exterminadas pelos espanhóis. Aqui é uma região muito interessante. O mundo andino inicia aqui. As montanhas se elevam à beira da cidade. O altiplano cresce a partir de Tucumán. 

Em relação à mocinha, foi legal enquanto durou. Conheci a família e até mesmo o cachorro! Mas essas relações à distância já não me animam muito. A não ser que fosse um amor avassalador.. Não foi o caso. O relacionamento já estava estranho antes deu ir. Na verdade, fui para ver no que dava. Foi bom apenas enquanto durou. 

Já meus parentes, esses eu estou com muita saudade até agora. Foi muito pouco tempo de convivência. Meus primos de primeiro grau tendo filhos!! Minhas tias ficando velhas. A vida seguindo seu rumo. E eu, aparentemente, continuo nas viagens... quando não mundo a fora, no mistério das profundezas do espírito.

Voltei a São Paulo para mais outro congresso da minha área e vim para Manaus. Minha nova base. Onde estou firmando raízes. E até a próxima viagem!

Plaza Tucumana

Congresso

La paz, siempre!

Lugares lindos

Argentinos inconformados..

Quase ingleses!

Força!

Perto da Casa Histórica

Patrícia, tio Gordo, tia Pampi, tio Augusto

Paula, prima querida

Vida noturna

Mercedes Sosa

Daniela, prima querida

Movida tucumana

tio Augusto, Adrián, Paola, seu namorado e Lautaro

Em cima: Julieta, Paola, Daniela, eu, Paula, Lourdes. Abaixo: Agostina e Mariana

Tia Pampi, tia Olga, Daniela, Lourdes

Mais uma viagem...

sábado, 25 de junho de 2011

Rio Jutai - Manaus

Chegamos num Sábado em Marauá, a primeira das comunidades do rio Jutai dentro da RESEX. De cara notamos a diferença. Essa comunidade era maior, e mais bonita que as outras do Riozinho. Parecia mais organizada. As pessoas bem simpáticas e receptivas. Senti-me bem de chegar e ser bem recebido.

No Domingo, havia um torneio de futebol na comunidade vizinha, Bordalé. Fomos todos lá prestigiar. Umas pessoas da expedição até jogaram nos times locais. Esse tipo de evento atrai gente de todas as comunidades vizinhas. O povo gosta de jogar futebol. Há times masculinos e femininos. Todos aproveitam para se visitarem, conversarem, dançarem forró. É bem legal ver a comunidade cheia de gente. À noite rolou uma festinha, mas eu não fui pois estava cansado. Ainda bem que não fui, pois um rapaz esfaqueou um outro sujeito, por ciúmes. O pessoal da expedição colocou ele na voadeira (lancha) e o levou para Jutai, que não é tão perto. Todos ficaram chocados. Os que ficaram mais chateados foram os comunitários, pois isso não costuma acontecer. Há anos que não se tinha notícia nem de brigas. E logo com a nossa presença por lá, isso foi acontecer. Todos ficaram bem chateados com isso. Até eu fiquei chateado, sem mesmo ter ido no forró ribeirinho.

Depois subimos o rio Jutai por mais um longo dia de viagem. E no outro dia, mais tempo de viagem até finalmente chegar à penúltima comunidade. E mais uma hora de voadeira para alcançar a derradeira comunidade. Ufa!

Na ordem de subida do rio:
Marauá
Bordalé
São Raimundo do Seringueiro
Novo São João do Acural
São João do Acural
Cazuza
Cariru
Pururé
São Raimundo do Piranha
Novo Apostolado de Jesus
E mais uma família isolada, no Patoá.

Esse trabalho me traz satisfação porque estamos tornando público o modo de vida dessas pessoas. É uma vergonha a maneira como o governo trata a educação. Em um ano inteiro, os professores de uma comunidade deram apenas 1 mês de aulas somados. Em geral só se estuda até a 5ª série. Quando a escola não está em estado mais do que precário, as aulas são dadas na casa de alguma pessoa. Não há água potável. Nem qualquer forma de saneamento básico. Não há energia elétrica, apenas alguns geradores movidos a diesel ou gasolina, que nem todas as noites funciona. Durante a seca, o sofrimento aumenta muito, pois a distância do rio aumenta e haja força para carregar os baldes de água. O sol está cada vez mais escaldante. Boa parte das pessoas não possui documentos. Há um grande descaso governamental.

Para piorar esse esquecimento voluntário do poder público, as histórias mais chocantes são a de expulsão de moradores em comunidades antigas de certas áreas. Há menos de 10 anos atrás foi criada uma Estação Ecológica, que é uma modalidade de Unidade de Conservação que não permite moradores. Numa área onde moravam dezenas de famílias, há anos, o governo simplesmente às expulsou. Sumariamente. Sem dó nem piedade. Os absurdos de um país chamado Brasil.

Durante esses dias acabei pegando carrapato. O "micuim", um carrapatinho tão pequeno que é invisível a olhos nus. Coça muito. Para tirar eles, óleo de andiroba, que eu havia comprado uns dias antes dos ribeirinhos.

Faltando apenas 1 comunidade para eu terminar o trabalho, a notícia para voltar a Manaus. Urgente. Saiu o financiamento de um projeto para eu trabalhar nos próximos 2 anos e meio. Voltei às pressas, sozinho. Foram horas de voadeira até a cidade de Jutai e depois Fonte Boa. Voo à tarde. Despedi-me de todos. Durante a semana o barco chega e vou lá pegar as coisinhas que comprei de lembrança de indígenas e amazonenses.

Valeu muito a pena a viagem. Aos poucos ganhando experiência de campo. Conhecendo a vida no interior amazônico. Tornando-me um pesquisador da Amazônia.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Rio Riozinho 2

Após a passagem pela sede municipal de Jutai, por conta dos casos de malária em algumas pessoas da expedição, retornamos à RESEX do rio Jutai. Faltavam mais algumas comunidades do rio Riozinho para serem pesquisadas.

No entanto, parece que ali começava meu final de semana de azar. Logo no Sábado, enquanto ainda estávamos em Jutai, resolvi aderir ao novo esporte: o pranchão. A voadeira (lancha) vai correndo o rio com uma corda. A pessoa segura a corda e, com uma prancha, vai se divertindo com manobras aquáticas. Quando foi a minha vez, o cano de plástico para segurar estoura. Tive vários ferimentos na mão direita. Foram alguns dias até cicatrizar e eu poder usar minha mão novamente.

Além desse abalo psicológico, assim que subimos o Riozinho novamente, acontece mais uma comigo. Domingo, dia seguinte do acidente com o pranchão. Estamos todos no barco e de repente aparecem dois meninos em suas canoas, brincando de pescaria de arco e flecha. Nestas comunidades, boa parte das pessoas pesca com esses instrumentos. Vou pegar a câmera. Tiro uma foto. Quando vou me ajeitar para uma posição melhor, minha mão direita machucada não segurou a câmera. Ela quica no chão e cai nas águas pretas do segundo andar do barco. No mesmo instante em que vi ela caindo na água, fui tomado por um impulso primitivo de resgatar o objeto. Há alguns dias atrás eu tive medo de saltar na água daquela altura. Demorei para pular. Naquele momento, assim que vi a câmera afundando, saltei de ponta em menos de 1 segundo. Mergulhei fundo, mas as águas escuras não permitiam visão nenhuma. Assim que emergi novamente, o pessoal estava olhando se eu havia logrado resgatar o aparelho eletrônico. Em vão. O pior que não era a minha câmera. Era a da minha colega. Isso que me deixou mais triste. Assim que eu subi no barco, o pessoal já me deu a ideia. Falar pra dona: "você que a notícia boa ou ruim primeiro?". A notícia boa foi que ela ganhou uma câmera novinha. A ruim foi que ela havia ficado sem câmera. Eu deixei a minha emprestado com ela o resto da expedição. E na volta combinei de ressarci-la devidamente. Que azar! Na hora nem pensei nos perigos de saltar no rio. Eu sabia que em rio de água preta não há troncos na água e há poucos peixes. Jacaré só aparece de noite. Como todos brincaram depois, a Iara vai tirar umas fotos nos próximos dias.

Explicando. A Iara é o ser encantado das águas, segundo o povo daqui. É a guardiã das águas. Em algumas comunidades ouvi relatos de gente que já teve o merecimento de vê-la. Alguns contam apenas que ela protege algumas roças. Outros que ela protege as águas dos rios. Outros já falam de visões que tiveram. E assim o universo amazônico vai mostrando seus encantos.

Subimos o Riozinho até a derradeira comunidade. Na ordem da subida, ficou assim:
Monte Tabor
Cristo Defensor
Nova Esperança
São Bento
Bacabal
Novo Cruzeiro
Vila Efraim
Bate Bico
Vila Cristina
Porto Belo
Boa Vista

As águas do Riozinho são negras. À medida que vamos subindo o rio, parece que elas vão ficando mais escuras. As paisagens lá são muito lindas. Uma coisa impressionante. Depois deu ter adquirido uma dívida moral com minha colega, tomei mais cuidado em tirar fotos.

Por fim, foram dias agradáveis esses que passamos no Riozinho. Fizemos amizade com os comunitários e comemos frutas amazônicas, peixe, farinha e açai. Concluída essa etapa, o barco partiu rumo ao rio Jutai, onde haveriam mais várias comunidades rurais a serem visitadas.

sábado, 4 de junho de 2011

Resex do Rio Jutai - Rio Riozinho

Jutai fica onde o rio Jutai desembolca no rio Solimões. As águas pretas que se misturam com as águas barrentas. O espetáculo do encontro das águas. As belas paisagens amazônicas, que máquina fotográfica nenhuma consegue captar. Pelo menos, ainda não consegui tirar uma foto que mostrasse a beleza deste lugar incrível. Aqui o pôr-do-sol é o que me chama mais atenção. No momento em que o dia está para terminar, o sol vai baixando e o céu inteiro fica colorido. Onde o sol está se pondo as cores são mais vivas. E do lado oposto do horizonte o céu também está colorido. Tudo fica colorido. É um espetáculo lindíssimo cada dia que se vai. E cada noite, repleta de estrelas, também é uma obra prima do Absoluto.

E assim vamos desfrutando da magia amazônica. Subimos pelo rio Jutai até o momento em que desemboca o rio Riozinho. Subimos pelo Riozinho até chegar às comunidades da RESEX (Reserva Extrativista) do rio Jutai. Aqui começou a segunda etapa de nosso trabalho. A parte mais legal e interessante, porque finalmente estaríamos conversando com o povo simples das comunidades rurais amazônicas. Os famosos ribeirinhos.

Chegamos em Monte Tabor, com suas 17 casas. Ali, naquelas águas pretas, o povo vive da pesca e agricultura. Vidas simples. Famílias numerosas. Mulheres tendo filhos a partir dos 13 ou 14 anos. E muitos filhos. Vidas sofridas. Mas vidas tranquilas. A maioria quase absoluta não trocaria essa vida pela cidade. No meio urbano é preciso emprego, dinheiro e muito mais. Ali eles vivem do que a natureza lhes dá.

Visitamos as comunidades da margem esquerda do Riozinho: Monte Tabor, Cristo Defensor, São Bento, Nova Esperança, Bacabal, Novo Cruzeiro, Vila Efraim, Bate Bico, Vila Cristina. São comunidades que surgiram a partir do momento em que foi plantada a Santa Cruz. O fundador dessa religião é o irmão José, um mineiro que um belo dia teve algumas visões e saiu pela América do Sul plantando uma cruz, ensinando o povo a ler a Bíblia e a seguir um regulamento. Em minha tese de doutorado eu já havia estudado uma comunidade que segue a Cruzada, como também nomeiam os comunitários. Há até uma igreja que se parece com um castelo em 2 delas.

E a cada casa que entramos para fazer nosso trabalho, uma história de vida. Algumas emocionantes. Outras peculiares. Há aquelas que relatam vidas sofridas. Também ouvimos a respeito dos conhecimentos de plantas e ervas medicinais. Histórias de onça, cobra, jacaré e outros bichos da floresta. E claro, do movimento religioso que fundou essas comunidades, mas que no momento muitas delas já abandonaram a crença, deixando que a Santa Cruz caia no esquecimento. Em apenas 2 delas as regras ainda vigoram. Lá as meninas não puderam circular a não ser de saia e manga comprida!

Minha equipe tem sido trabalhadora. As duas empenhadas no trabalho e ouvindo as histórias desse povo simples. E assim a gente vai aumentando nossa bagagem e conhecimentos a respeito do povo brasileiro. Um país tão grande que muitas vezes parece até um continente. Aqui mesmo estamos na Amazônia do Alto Solimões, que boa parte dos brasileiros só conhecem pela televisão, têm opinião formada, sabem o que fazer com ela, mas que nunca pisaram nestas terras, florestas e rios. Não sabem que aqui há uma diversidade cultural enorme. Que há mais do que apenas índios pelados. Aqui vivem os amazonenses, o povo das águas e da floresta. Gente simples e batalhadora, que sofre com o esquecimento governamental, mas que vem sobrevivendo com o esforço do suor na agricultura, pesca, caça, extrativismo e coleta. O benefício maior mesmo, na minha opinião, é estar mais próximo do ritmo da natureza. Conhecer a força de lua, em suas fases. A força do verão e do inverno amazônico. A força do vento e das águas. A força da terra. A força das frutas, em suas épocas. A força dos animais.

Tivemos que voltar até Jutai porque houve casos de malária diagnosticados na tripulação. Todos fizemos exames e apenas 03 estão doentes. Outros ainda com suspeita da doença. Eu, graças a Deus, melhorei do resfriado que já durava 03 semanas. Nas comunidades pude comer várias frutas amazônicas, especialmente o açai tirado na hora. A comida no barco é o de sempre: arroz, feijão e farinha d'água (feita da mandioca e prato típico do amazonense), acompanhado de carne de vaca ou frango. Às vezes há peixe para todos, recém pescados no rio. Almoço e janta sempre iguais. Estou tomando multi-vitamínico. E meu café da manhã diferenciado, devido a eu ser celíaco: apenas coisas de milho, mandioca e nada de açúcar. E assim venho vivendo esta vida de pesquisador na Amazônia.

Em breve subiremos novamente o rio Jutai e Riozinho para concluir as comunidades. Depois, vamos ao Rio Jutai, onde há outras comunidades. E final do mês acaba o trabalho. Ainda muito rio a percorrer.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Santo Antônio do Içá

Saímos bem cedo de Benjamin Constant, descendo o rio Solimões durante todo o dia. Agora à noite paramos em Santo Antônio do Içá, umas simpáticas cidades do Alto Solimões. A navegação por este rio é só para navegadores muito experientes. Muito, porque apenas navegadores acabam batendo em troncos no rio e capaz até de afundarem a embarcação.

Durante a semana passada acabei por pegar um resfriado. Aqui na Amazônia o clima é sempre quente. Ao contrário do que mostram os telejornais editados no sudeste do país, as estações equatoriais não são as mesmas que a das demais regiões do globo. Há o inverno amazônico, que corresponde à época das chuvas. No Alto Solimões é entre Dezembro e Junho. Isso representa enchente e cheia também. O pico da cheia é em Maio. Portanto, as notícias sensacionalistas de que está tudo alagado é apenas para telespectador desinformado pensar que a natureza está em revolta. Aqui todo ano enche. Alguns anos enche mais do que outros. As pessoas que vivem à beira dos rios constroem suas casas em palafitas, com umas distância razoável do solo. Uma tecnologia antiga, desde os povos indígenas mais antigos. O verão aqui vai de Julho a Novembro, com o pico da estiagem em Setembro. E faz mais calor do que o normal, pela falta de chuva. É a melhor época para pesca, pois há menos água para onde os peixes podem nadar. Quando a televisão mostra que o país está entrando no outono e depois no inverno, isso não se aplica à região norte. Essa falta de divulgação das diferenças regionais deixa o povo daqui triste, pois é como se a cultura e condições locais não existissem para o resto do Brasil. Isso porque a Amazônia representa cerca de 60% do território nacional...

Pois bem, nesse calor todo, qualquer vento mais gelado faz a gente se resfriar. À noite também esfria levemente, principalmente se chove. Explico-me: a temperatura desce para uns 25ºC!! De dia, em torno dos agradáveis 35ºC. Um destes dias estava muito quente, pra variar. E numa das noites choveu. E eu e mais algumas pessoas nos resfriamos. E demora dias para nos curar. Agora, após 1 semana, estou quase bom já.

No barco a parte mais difícil está por vir. Nesta região amazônica não há variedade de verduras. Primeiro porque o solo não permite agricultura extensiva, apenas a familiar. Ou seja: comprar em larga escala não dá. Segundo, não chegam os alimentos das outras regiões do país até aqui. Portanto, ficaremos sem verduras em breve. Frutas há algumas. E estou procurando comer o que posso. Vamos ver como será daqui em diante.

Estou feliz por este trabalho. A primeira parte da viagem já foi. Agora inicia-se a segunda, onde visitaremos inúmeras comunidades ribeirinhas da RESEX (reserva extrativista) do rio Jutai. Boa parte da tripulação já virou uma grande família. Claro, há sempre maior afinidade entre certas pessoas e certos grupos. Eu procuro me relacionar da melhor maneira possível com todos. Trocamos ideias, comidas, risadas e experiências. E por essa razão esta expedição é uma coisa que ficará marcada em nossas vidas para sempre.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Tabatinga e Leticia (Colômbia)

Hoje foi nosso dia de folga. Logo 06h10 da manhã pegamos carona com a lancha da UEA que leva os alunos de Benjamin Constant até Tabatinga para estudarem. Após 1 hora de viagem, chegamos. A turma do barco se dividiu mais por afinidade e disposição para acordar cedo. No meu grupinho estávamos em 8 pessoas. Fomos andando pela cidade e paramos em uma padariazinha para tomar café da manhã. Ai, quando chegamos ao Banco do Brasil, a chuva começou. E durou muito tempo. Nisso, eu vi a sede da Rádio Nacional do Alto Solimões. Essa é a rádio que o povo de Tauaru ouve e pela qual eu posso mandar recados. Então, fui lá para deixar um recado. E não é que a moça me convida para uma entrevista? Mas, como estava de folga, não prometi comparecer.

Então, continuamos nossa caminhada na chuva mesmo, até Leticia. Basta atravessar a rua e se entra na Colômbia. E logo se percebem os contrastes. As ruas são mais ordenadas. Há mais carros. Há comércio. Muitas lojas para comprar perfumes, importados, cosméticos, roupas, etc. Lojas de artesanato que não acabam mais. E a melhor surpresa: na Colômbia há colombianas. Minha nossa senhora, elas são bem bonitas. Chama muito a atenção. Lindas mesmo.

A cidade é muito simpática. Com bastante vida. Andamos bastante. O pessoal comprou bastante coisa de artesanato. Eu, que já havia comprado várias coisas dos índios, só levei uma ou outra lembrancinha. Após vasculhar as lojas, andamos um pouco pelas ruas, conversando com o povo colombiano. Nessa cidade eles são bem receptivos. As praças são bem gostosas. Há bastante árvores. Muito comércio. Gostei. Já havia vindo para cá outras vezes. O melhor foi a hora de comer. Pratos típicos e bem servidos. Comi o tal do "arroz chaufa", que veio um prato enorme que dividimos em três e quase sobrou.

No fim da tarde, voltamos a Tabatinga. E de lá para Benjamin Constant. Amanhã desceremos o rio Solimões até Jutai. Serão 2 dias até lá. E em breve chegará o momento em que ficarei incomunicável por muitos dias...

Atalaia do Norte 2

Acabou que Atalaia do Norte foi nosso ponto de referência nesta parte da viagem. A cidade é bem pequena. Precaria em tudo. Falta frutas, verduras, água potável. Médicos e outros profissionais de saúde. O que há são 05 etnias que convivem no município: marubo, mayuruna, kanamarí, matsé e matis. E há também os kulina e korubos, que são índios isolados. E dizem que há mais outros grupos isolados, que não se sabe o nome da etnia.

Desses índios se pode ver uma boa diferença. Há os que são brancos, de olhos castanhos bem claros e cabelos quase loiros. Os brancos de cabelos já mais escuros. E os que são mais morenos. Isso me chamou muito a atenção. Há os que parecem mendigos pobres e sujos. E aqueles que são mais organizados e sabem valorizar suas produções artesanais. Eu aproveitei para adquirir lembranças das etnias que pude.

Já a cidade vive em clima de festa na sexta, sábado e domingo. Há 02 restaurantes em que se pode comer uns pratos gostosos. Eu comi bastante ceviche, a comida típica dos peruanos. Aliás, o Peru é do outro lado do rio e não há controle nenhum de ida e vinda de pessoas. Então já viram que por aqui, controle de alguma coisa é inexistente mesmo. Nas noites do final de semana rola uma "festa", que os paulistanos chamariam de "balada". O som fica se repetindo o tempo todo. Vai do reggaeton, ao eletrônico, ao forró bagaceira. E repete. Repete. Repete. As mesmas músicas. O pessoal do barco foi uns dias. Alguns guerreiros foram vários dias. Eu fui mais para ver e me divertir com a turma. Os outros dias preferi descansar. Aos Domingos teve o banho do tampinha. É um igarapé que dá pra tomar banho e tem música ao vivo. Foi bem divertido os dois domingos que ficamos por lá. Integração da galera do barco. Outro dia eu comentei das atalaienses. Depois de ficarmos uns dias aqui, vi que a euforia feminina local foi mais devido ao fenômeno da "carne nova". Uns rapazes do barco arranjaram suas namoradas locais. E depois, já éramos conhecidos da cidade toda. Gente conhecida já não tem mais graça.

E assim se passaram os dias em que ficamos em Atalaia. Vida tranquila de interior da Amazônia.


sábado, 21 de maio de 2011

Rio Itacoai

Após um dia de descanso merecido em Atalaia do Norte, nosso barco seguiu para o rio Itacoai. Agora sim, em terras cada vez mais próximas da tribo de índios isolados. Em terras onde há mais animais silvestres, como a temível onça, por exemplo. Em terras onde a Amazônia é mais misteriosa.

Como das vezes anteriores, da cidade arranjamos alguma pessoa que conhecesse as áreas a serem exploradas. Desta vez o nosso contato era com o Seu Churrasco. Um apelido estranho mesmo! E chegamos, após algumas horas de navegação pelo rio Itacoai, à pequena comunidade ribeirinha de São Rafael.

Aqui as histórias de contato com os Korubos, os índios isolados, são fartas. Contam que um pequeno grupo se separou da sociedade Korubo. A FUNAI só teve contato com 27 desses índios. Estima-se que haja mais de 1500 deles, em uma área entre o rio Quixito e o rio Itacoai. Justo onde pudemos percorrer. Esse grupo dissidente já estabeleceu contato com o pessoal da comunidade São Rafael e da comunidade Ladário, há apenas 5 minutos de bote uma da outra. O contato inicial ocorreu há alguns anos atrás. Esses Korubos eram bem violentos. São conhecidos como índios "caceteiros", pois eles matavam as pessoas com uma cacetada na cabeça. Nessa comunidade São Rafael, os primeiros contatos foram bastante temerosos para a população local. Eles chegavam e queriam as coisas. Se fossem contrariados, eles matavam. E 3 pessoas morreram assim. Tentaram sequestrar uma criança. Pedem sempre farinha e utensílios domésticos. E cachorros também, que os auxilia na caça. Ao longo dos anos, muitas pessoas foram embora dessas comunidades, com medo desse caceteiros. Por outro lado, eles aprenderam a falar português. E agora sabem falar nosso idioma, andam vestidos e até pedem as coisas em troca, retribuindo com cestos, artesanatos. O povo troca, com medo da represália. A líder é uma índia, Maia. Tem 2 maridos. E dizem que seus peitos são muito caídos. Isso é motivo de graça do povo daqui.

Esses índios Korubos dissidentes só aparecem na época de seca. Agora estamos na cheia ainda. Portanto, encontrar com os caceteiros só em sonho mesmo.

Aqui ouvimos mais histórias de onça. Dizem que seu esturro é assustador (o cachorro late; o gato mia; a vaca muje; a onça esturra!). Contaram dos contatos que já tiveram com o animal. Ele só pega a pessoa por trás. É bem traiçoeira. Ataca apenas se sente ameaça ao filhote, se está no cio, ou se está com fome. Portanto, é melhor nem querer encontrar com uma dessas. Claro que muita gente gostaria de encontrar com um bicho desses no meio da floresta. Eu fiquei pensando que seria legal. Mas, ao pensar melhor, ponderei: se eu tenho medo de cachorro grande latindo e bravo, imagina só uma onça faminta esturrando, levantando os pelos das costas e em posição de ataque! Como todos disseram por aqui, mesmo a pessoa mais valente treme diante de uma onça. Os pesquisadores que já encontraram com alguma na floresta contaram que é amedrontador. Contam que o macho esturra para o alto e reverbera por muitos metros um estrondo fortíssimo. A fêmea esturra para o chão, então a terra parece tremer e a pessoa sente o barulhão pelo chão. Deve ser mesmo aterrorizador. Mesmo assim, eu queria ver uma onça na floresta. Bem de longe, é claro. Não ia gostar de me virar e lá está ela, logo ali atrás de mim.

E o mais impressioante foram os relatos dos seres encantados da floresta. O "curupira" é o guardião das matas. Ele afasta aqueles que querem depredá-la ou a desrespeitam. Mas também aparece para uns poucos eleitos e os salva em certas situações. De modo geral, o povo tem mais medo desse ser do que lhe tem estima. E um dos meninos da comunidade teve uma experiência incrível. Ao completar 3 anos de idade, acabou se perdendo na floresta e ficou isolado por 3 dias seguidos. Conta que ficou parado, dormindo ao lado de um tronco caído. Bebeu água de um poço perto de onde estava. Já sua alimentação foi de uma fruta, o geninpapo. E esta fruta lhe foi entregue pelo Curupira, durante os 3 dias em que esteve perdido. O garotinho agora tem 11 anos e o povo diz que ele ficou enfeitiçado pelo Curupira. Quando ele pesca, ele puxa os peixes não apenas pelo anzol na boca, mas por qualquer parte do peixe. E só ele consegue algumas pescarias. Perguntei da aparência do Curupira. Ele conta que não lembra bem, mas que ele pensou que fosse uma tia próxima dele, dando-lhe de comer. Enfim, seu avô o rastreou e o levou de volta para casa.

Os incrédulos dizem que o sobrenatural não existe. Só o que é da natural existe. E o que existe é comprovável pela ciência. Pois essa ciência moderna é muito pobre. O que não pode explicar, não existe. Por isso que eu gosto de vir pra estes lados amazônicos: porque as pessoas vivem ainda em um mundo encantado, pleno de mistérios e encantos. O desconhecido está nas lendas, nos mitos, nessas histórias fantásticas. A imaginação das pessoas vai longe. Não apenas as crianças têm direito de sonhar, mas também os adultos. Portanto, o sobrenatural na verdade faz parte da natureza amazônica. E por isso mesmo a Amazônia é um universo enigmático, que segundo Euclides da Cunha, é a última página do Gênese a ser escrita...

sábado, 14 de maio de 2011

Rio Quixito

Após os dias em Atalaia, chegou a hora de continuar a expedição científica. Há diversas equipes: picada (que abre caminho na floresta), inventário florestal (que classifica as árvores), botânica (classificação mais fina), solos (para avaliação do solo), madeira caída (para verificar as madeiras caídas naturalmente), cipós (pesquisa de alguns tipos de cipó) e georreferenciamento (que transforma pontos de GPS em informações valiosas, mapas, etc.). E a minha equipe: socioambiental (para levantamento das condições sociais, econômicas e ecológicas das comunidades). Além dos cientistas, há os estagiários. E os peões, que auxiliam nos trabalhos na floresta, dirigir os botes, etc. E o pessoal do barco, que cuida da limpeza, direção do barco. E os cozinheiros, pois afinal todos nós temos que nos alimentar!

Saímos da cidade viemos subindo o rio Javari. Entramos no rio Itaquaí. E finalmente, pelo rio Quixito. Aqui é Amazônia pura. Floresta intacta. Povos autônomos. Ao longo deste rio Quixito estão 2 dos povos isolados. Um deles seria o dos Korubos, os índios caceteiros, que se estima haverem entre 1500 e 4000 deles. Logo no início do rio há um posto da Funai, controlando os navegantes. Ao se subir o rio, muitas curvas. Curvas e mais curvas. Um rio estreito. Floresta densa. O medo tomando conta da tripulação. Do lado esquerdo, esse povo isolado de caceteiros. Recomendação para não ir até a margem por nada. E do outro lado, os índios flecheiros. Ou seja: ao invés de tomarmos uma cacetada, levarmos uma flechada. Com nós estavam vindo 3 comunitários que possuíam uma propriedade com plano de manejo. Há alguns anos não iam para lá.

Chegamos ao local. A floresta com seus sons. Muitas aves cantando de manhã. E logo o lado infernal desta região se apresentou: os insetos. Muitos, mas muitos insetos. De dia o ataque do pium, um mosquitinho milimétrico preto, que tem uma picada que abre um buraco na pele e sangra. E coça muito depois. Insuportável. Há também o mucuim, um mosquitinho menor ainda, que passa por qualquer mosquiteiro e também pica que sangra, coça e incomoda. De noite, os pernilongo. Ou como chamam por aqui, carapanã. Fora as mariposas e insetos alados estranhos. Apareceu um que diziam ser mais venenoso do que cobra. Eu só durmo na rede com o mosquiteiro. Mas de dia, com o calor, uso repelente, que parece durar apenas alguns minutos. Estou cheio de picadas de pium e de carapanã.

O pessoal que entrou na floresta diz ter ouvido uma onça pintada. Ela só ataca a pessoa de costas, se estiver sentindo-se ameaçada. Ou se estiver com fome. De frente, a onça não ataca. Por aqui ouvimos vários relatos de onças. Os 3 comunitários são caçadores. Numa das noites, entraram na floresta. Descalços!! É muita coragem para mim. E trouxeram uma paca. Carne boa e macia.

Estes dias, eu não entrei na floresta. Apenas fiquei trabalhando no barco. Tomei banho de rio. Li bastante. Dias de repouso. Pratiquei kriya yoga e os exercícios tibetanos, que agora tenho feito diariamente. Os rapazes pegaram açai na floresta. Fresquinho é uma delícia. E também pescaram. Comer peixe fresco é outra coisa.

Sobre a saúde, boa parte dos tripulantes já teve problema de diarréia, devido à água que utilizamos ser do rio e está cheia de microorganismos nocivos. A água para beber é mineral, mas a que tomamos banho, lavamos os alimentos e escovamos os dentes é essa do rio. Eu cheguei a ter um princípio dessa doença, mas meu organismo resistiu, graças a Deus. Quando ataca, é febre, diarréia, indisposição geral. Um dos rapazes teve que abandonar a expedição, pois não havia remédio que o curasse.

E assim vão se passando os dias. Na convivência com as quase 40 pessoas deste barco. Sem internet. Energia racionada e que funciona só quando o motor está em atividade. Há os altos e baixos. Atritos e risadas. Tudo em nome da ciência.

Voltamos hoje para Atalaia do Norte. Folga após esse tempo todo de expedição. E semana que vem vamos a mais uma semana de floresta. Voltamos no Sábado para Benjamin Constant. E Domingo desceremos para Jutai.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Comunidade Ribeirinha: Palmari

Palmari é uma das poucas comunidades ribeirinhas de Atalaia, cuja população é não indígena. Muita gente por aqui faz questão de diferenciar-se do índio, por acreditar que esses andam pelados, são atrasados e têm costumes estranhos. Muita gente no estado do Amazonas fica profundamente ofendido em se mencionar qualquer característica que lembre a herança genética e cultural indígena. Mesmo que se venha para cá e se veja na fisionomia das pessoas a herança genética (muita gente de pele morena escura, cabelos pretos lisos, olhos pretos e puxados), não gostam de serem chamados de "caboclo". Esse seria o termo que gente de outras parte do país usam para se referir a essa mistura entre os migrantes europeus e os índios. Pois bem, por aqui em geral é uma ofensa.

E não é diferente na comunidade de Palmari. Eles se consideram brasileiros, amazonenses. Caboclo ou índios, nunca.

A característica que diferencia essa comunidade ribeirinha de outras é que há um hotel de selva nele, montado por um estrangeiro. Ele recebe, em sua maioria, turistas colombianos que vêm de Leticia (cidade colombiana). Passam alguns dias por ali, onde são levados a terem experiências na selva: ver jacaré, andar nos igarapés, entrar na floresta, ver os botos nadando, animais silvestres. Mas acontece que o dono está em rivalidade com a comunidade, pois não quer lhes repassar benefícios financeiros recebidos pelo turismo. O líder comunitário entrou até na justiça para haver seu direito. E parece que conseguiu. Além disso, ele mesmo está montando um hotel concorrente. Claro, para gerar lucro para sua família e para os demais comunitários.

Fiquei 2 dias por aqui, conversando com as pessoas. Comendo frutas amazônicas diferentes. Tão diferentes que nem lembro os nomes. Tomando açai tirado na hora da palmeira. Tomando caldeirada de peixe recém pescado. Ouvindo histórias de gente simples, lendas de sereias, seres encantados e animais da floresta. Relaxando no convívio familiar de famílias de interior, que vive na modéstia e na alegria de estar neste ambiente chamado Amazônia.

O detalhe foi que no Sábado, véspera do Domingo dia das mãe, a prefeita de Atalaia, acompanhada de seus assessores e de muitos brindes, veio até a comunidade de Palmari. E eu, o representante do INPA, pois a equipe florestal estava em seu ambiente de trabalho: a floresta. Ap_ós os inúmeros discursos político, chegou a minha vez de discursar, em nome da ciência e do progresso. Falei do projeto de levantamento da dinâmica do carbono da floresta, do REDD (redução de emissão por desmatamento e degradação florestal) e da novíssima moda internacional: a floresta ser mais valiosa financeiramente de pé do que derrubada. Tudo em um linguagem acessível aos comunitários. Fiz a minha parte: os políticos, com seus interesses, já me perguntando quando de dinheiro ganhariam com suas terras preservadas. Os comunitários me dizendo "a gente vive aqui e sabe o que é esta riqueza. Porque pobre mesmo, são eles". É por momentos que me sinto revigorado com o trabalho.

sábado, 7 de maio de 2011

Atalaia do Norte

Cheguei em Atalaia do Norte e, por bem, minha equipe já havia adiantado boa parte do trabalho. Assim que cheguei por aqui, vindo de moto-taxi pela rodovia de 26km de comprimento, percebi que a cidade era bem pequena. Mas bem pequena mesmo. Chega-se da rodovia por uma rua que dá na praça. Da praça, uma rua que desce por 2 quarteirões até uma outra praça na beira do rio Javari, em que há uma estátua enorme de São Sebastião flechado. Teria sido flechado pelos índios? E ali termina a cidade. Claro, há umas ruas perpendiculares que cortam essa rua principal. E apenas 2 restaurantes.

Logo o barco chegou e me juntei ao pessoal da expedição. Vi que haviam muitos índios por ali. Atalaia do Norte é um município com área bem grande, sendo parte dele ocupado por uma Terra Indígena. Para se chegar até essas terras é preciso vários dias de viagem em um bote com motor comum e mais de 1 dia em lancha com motor potente. Nela habitam 5 etnias diferentes: Marubo, Matses, Matis, Kanamarí e Kulina. Podemos ver esses índios na cidade, pois eles vêm atrás do auxílio governamental dado pela FUNAI. Nos dias em que estive por aqui, tive a chance de ver esses índios. Parecem indigentes, por andarem descalços, com roupas velhas e rasgadas, aparentarem serem bem pobres. E de fato o são. Nota-se uma diferença entre eles pelo tipo de adornos e pinturas que usam no rosto. Muitos deles chegam aqui e não voltam para suas terras. Ficam que nem mendigos pela cidade. Aqui pertinho da cidade há também algumas malocas construídas para os turistas visitarem os índios. Visita nas suas comunidades mesmo é proibido aos brasileiros comuns. É contra a lei. Mas, se um gringo se aventura a ir até uma tribo, ele não está infringindo a lei. Ou seja, para os "civis" brasileiros, a regra é bem mais dura que para os estrangeiros.

Há aqui relatos de tribos isoladas. Segundo um indigenista, já não se fala em isolados, mas em "povos autônomos". São os índios Korubo, ou caceteiros, como são conhecidos por aqui. Caceteiros porque matam os invasores com uma cacetada na cabeça. E matam também os filhos defeituosos, gêmeos e qualquer variação que seja contra o "natural". Dizem que são canibais também. Há muitas lendas em relação a eles, bem como muito medo pela população local. Um grupo dissidente da nação Korubo fez contato com os brancos. Foi com uma comunidade que tem apenas 2 casas. E conta-se que esse índios mataram em recente episódio 5 ribeirinhos. O chefe desse grupo é uma índia, que possui 2 maridos. Quando ela foi parir, teve complicações e veio até a cidade. Nessa ocasião, uma parte da população estava revoltada, querendo vingança. E, por esse motivo, o governo federal armou uma operação de guerra, digna de filme norte-americano, para levá-la até o hospital e trazê-la de volta à região de floresta. Helicópteros, lanchas, policiais com rifles, televisão. Tudo conforme o figurino, para que as autoridades internacionais vejam o empenho brasileiro em defender esses povos autônomos. Tudo em nome do show.

Eu fiz minhas comprinhas de artesanato indígena. Seguindo a idéia que tive junto com minha amiga, a mochileira incurável Aline, de comprar coisas de todos os lugares do mundo para adornar minha casa.

Além dessa característica indígena desta cidade, posso dizer que é um município super precário. Distante de tudo. Com pouquíssimos serviços. Falta médico. Falta psicólogo. Falta tudo. Há altos índices de malária na região, diarréia pela água não tratada e hepatite, daquelas que se pega do contato que 2 pessoas têm em sua intimidade. Ou seja, aqui faz jus à fama das guerreiras amazônicas. E fomos isso que vivenciamos por aqui. Mulheres que atacam descaradamente. Sem vergonha nenhuma. Sem pudores. A tripulação da expedição, em sua maioria masculina, logo percebeu isso. E o rendimento do trabalho caiu, pois parte dos rapazes caiu na farra durante as poucas noite que passamos por aqui. As mulheres atalaienses atrapalhando o progresso científico!

Ficamos por aqui apenas alguns dias. O barco aqui na sede municipal. Mas fomos também para uma comunidade ribeirinha não indígena. E eu fui.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Tauaru

Após trabalhar duro aqui na cidade de Benjamin Constant, mais um dever a cumprir. Tudo começou em 2006, quando vim fazer uma pesquisa com o pessoal da UFAM. Visitei algumas comunidades ribeirinhas da zona rural do município de Tabatinga, aqui na fronteira tríplice Brasil - Peru - Colômbia. Foi essa a primeira vez que pisei na Amazônia e me encantei. Logo decidi fazer minha tese de doutorado por aqui. E nesta região distante, pois poucos pesquisadores se aventuram a enfrentar longas distâncias em nome da ciência e bem-estar da população.

Por aqui, eu e mais 2 amigas pesquisadoras escolhemos uma comunidade especial para nossos estudos: Tauaru. As duas fizeram suas dissertações de mestrado. Eu fiz minha tese de doutorado. Vim para cá durante 4 anos. Enfrentei 7 dias de viagem de barco de Manaus até Tabatinga. E mais horas de canoa a motor para chegar na comunidade ribeirinha. O jeito dos ribeirinhos é bem simples. Pessoas vivendo na simplicidade. Um dia após o outro. Todas as vezes que vim para cá, me questionei sobre meus valores. Dar importância ao que de fato tem importância: a vida, a família, a natureza, Deus. O resto, são todos detalhes.

Finalmente, após concluir meu trabalho e defender a tese, voltei para cá. Compromisso social. Ética. Cumprir minha palavra. Vim entregar uma cópia da tese. Reencontrar os amigos tão queridos. Eu já havia me tornado parte das famílias daqui. E tudo acontece como mágica na vida das pessoas. Naquele mesmo dia, eles estavam trabalhando e comentaram a meu respeito. Disseram que estavam com saudade e que eu nunca mais apareci. E não é que meia hora depois eu apareci ali, em carne e osso, na frente deles? Vejam só a força da palavra. E a sintonia entre pessoas com alguma conexão.

Foram apenas 3 dias que pude deixar meu trabalho para visitar a comunidade. Mas foram ótimos dias. Convivência mais do que revigorante. Calor dos amigos. Sentir a força da amizade. O respeito. A vida simples. Gostei bastante. Conversar com todos, contar as novidades, matar a saudade.

Pronto, cumpri com minha palavra e dever de pesquisador. Estou feliz com isso.

Para voltar, uma peregrinação. Saímos às 7h30 numa canoa com motor 9HP, em 8 pessoas. E só chegamos em Tabatinga 14h50. Aquele sol forte na cabeça. Sede e fome. Claro, eu levei meu lanchinho e compartilhei com eles. Depois, uma lancha até Benjamin Constant, de apenas 20 minutos. E mais moto-taxi até Atalaia do Norte, em 30 minutos. Para a segunda parte do trabalho por estas cidades.

domingo, 1 de maio de 2011

Benjamin Constant 2

A cidade das motos. Por todos os lados, motos e mais motos. Muitas motos. Aqui todos usam capacete. Pelo menos alguma coisa positiva. Vão 3, 4 e até 5 pessoas em uma moto. Moto-taxi reina. Baratinho. As pessoas são bem simpáticas e agradáveis. Sempre te recebem com sorriso. O Peru é logo na outra beira do rio. Isso significa: invasão de produtos peruanos e muitos peruanos trabalhando por aqui.

De modo geral, estou gostando da simpática cidade. Clima de interior. Apesar de estarmos longe de tudo e todos, o pessoal aqui vai vivendo. Há tráfico livre. Vigilância praticamente nula. Uma prefeitura que busca fazer seu papel. Muitas comunidades ribeirinhas que parecem um mundo à parte de vida urbana. À parte também é a vida dos índios tikuna e cocama. Ou seja, estamos em um universo de 3 classes de pessoas: as urbanas, as ribeirinhas e os indígenas. Sem contar nisso os peruanos e colombianos.

Nosso trabalho está fluindo. Apesar de não ser o tipo de ofício que mais me instiga. Se para mim, da área social, já não é lá super interessante, imagina só para minha equipe, com pessoas que não são da área. Coitadas! Mas hoje entramos na floresta, acompanhar o pessoal que faz inventário florestal. Foi uma experiência interessante. Caminhar floresta adentro. E ver como é que abrem caminho, catalogam as árvores e plantas, coletam amostras de solo, madeira caída e plantas. Vi como é o ofício desse povo ligados ás ciências ambientais. E no final, as piadinhas, claro. Antes, eles falavam que meu trabalho era só ficar batendo papo, tomar cafezinho com as pessoas, passear pela cidade. Quando chegamos da floresta, foi minha vez: ficar passeando pela mata, pegar folhinha aqui, pintar tronco ali, colocar plaquinha acolá. E com humor vamos lidando com a vida de pesquisador nesta longa expedição.

Saudade mesmo das doses diárias de meditação pela kriya yoga, que não estou podendo praticar por falta de espaço. Minha casa é o barco, que está sempre cheio e em movimento de pessoas. Comida, tudo tranquilo. De almoçar e jantar, acho até que estou ficando mais fortinho. Comendo as frutas regionais, que são poucas mas já quebra um galho. E aqui encontrei um amigo paulistano, que morava em Manaus e passou num concurso da UFAM. O Raul. Engraçado encontrar ele nessas bandas. Saber da percepção de alguém com vivências culturais parecidas com as minhas. Viver aqui é ter muita paciência. Tudo chega de barco e demora dias. Viajar por aqui é mais fácil pela Colômbia do que pelo Brasil. Tem suas vantagens. Saudade do sossego do meu quarto, dos amigos e do contato com a família.

Em breve iremos a Atalaia do Norte, pois aqui já estamos finalizando. Ir um pouco mais distante ainda. E sem fotos, porque aqui não está carregando. Internet precária.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Benjamin Constant

Chegamos em Benjamin Constant dia 27 de Abril. Após 8 dias navegando pelo rio Solimões. A viagem foi tranquila. Assim que paramos, fomos até a prefeitura nos apresentar. Os 2 líderes da expedição e eu, o líder da equipe socioambiental. De lá vi que teríamos muito trabalho. E hoje e os próximos dias são de trabalho intenso.

O objetivo da expedição é fazer um levantamento: socioambiental e inventário florestal. A minha parte trata de ter um diagnóstico do município. As outras 6 equipes trarão infomações sobre botânica, georreferenciamento, madeira caída, estoques de carbono. Um trabalho pioneiro.

Minha equipe não possui pessoas com formação em área humanas e sociais. Sinto um pouco de dificuldade de ter que explicar em 5 minutos coisas que temos um semestre inteiro, numa disciplina, para compreender. Aos poucos as duas moças estão apreendendo e isso me deixa satisfeito. Tenho uma responsabilidade em minhas costas que não é fácil. Nessas horas sinto saudade de minhas grandes amigas pesquisadores, com quem trabalhei no doutorado. Altos papos a respeito da vida aqui no interior da Amazônia.

E se Deus quiser, um desses dias irei visitar novamente a comunidade de meu doutorado, que é aqui perto. Já vi que está completamente alagada. Sofrimento do povo ribeirinho. Sinto saudade deles.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Amaturá

Mais uma parada do barco que segue até Benjamin Constant. Saímos de Manaus na Quarta-feira dia 20 de Abril de 2011. E já estamos no 6º dia de viagem. E parece que faltam mais 2 ainda. A viagem é longa mesmo. O rio Solimões está cheio. A navegação é lenta. Pelo GPS, pude calcular que a velocidade média é de 11km/h. As vezes um pouco mais rápido: 13km/h.

E assim vamos navegando. Domingo de páscoa passamos navegando. Dia de chuva. Na Amazônia é sinal de introspecção.

A comida continua igual. A variação é um açai comprado em Codajás, a terra do açai. E que acabou hoje. Quando chegarmos em Benjamin terei acesso a algumas frutas. Abastecerme para quando formos à Resex do rio Jutai, momento em que teremos uma alimentação super restrita.

Por enquanto tudo corre bem. Eu na minha rotininha: de manhã e tarde estudo. Fim do dia, os exercício da longevidade tibetanos. De noite, leio. Estou finalmente lendo os livros do espiritismo kardecista. Interessantes. Incrível como cada religião consegue captar o interesse mais variado dos seres humanos. E não estou podendo praticar o kriya yoga. Infelizmente.

sábado, 23 de abril de 2011

Fonte boa

Após 4 dias de viagem, estamos em Fonte boa, cidade que já caracteriza a parte alta do rio solimões. Saímos de Manaus dia 20 de abril, às 13h. no primeiro dia, tudo tranquilo. no segundo dia, idem. paramos à noite em Coari para dormir. a navegação pelo rio solimões é perigosa, pois há muitos troncos, galhos, arbustos que podem danificar o barco. no terceiro dia, seguimos adiante. e finalmente mais este dia. Paramos aqui em Fonte boa. dormiremos por aqui. Claro, no barco. Vim para esta lan-house, com sua internet mais do que precária.

Comida de barco é aquelas coisas. Todo dia igual. Eu levei meu café da manhã, que consiste em sucrilhos ou tapioca e um suco concentrado que misturo com água. Almoço é a saladinha sempre igual, tomate, pepino, cebola, pimentão verde e repolho, tudo picadinho. Arroz e feijão. Carne de frango, gado ou de peixe. A janta é uma variação do almoço. Estou levando umas poucas frutas e mais uma guloseimas, como barrinhas de cereais e essas coisinhas.

Tenho estudado bastante de dia, com meu computador. E, mais à noite, dedicação à leitura. Estou com 3 livros e acho que consigo ler pelo menos 2. Dormir, comer, contemplar a paisagem. Reuniões com as equipes. Por enquanto, tudo tranquilo. Mais alguns dias de viagem até chegar em benjamin constant e começar o trabalho todo.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Expedição Alto Solimões/2011

Minha primeira tarefa profissional aqui no Amazonas é a Expedição ao Alto Solimões. Os rios aqui na Amazônia são tão compridos que se divide em partes: a parte baixa (onde está a foz ou onde ele desemboca), a parte média e a parte alta (onde ele inicial). Então, estou indo à parte alta do rio Solimões, que significa onde ele inicia.

Ele inicia na divisa trípice Brasil-Peru-Colômbia. Esse rio nasce nos Andes, lá no Peru, na região perto de Machu Picchu. Vem descendo pelo altiplano, passa pela Amazônia peruada e vem descendo pelo nome de "río Amazonas". Quando entra no Brasil, ele é renomeado de rio Solimões. Dizem que tem esse nome pela viagens do rei Salmão, rei de eterna Sabedoria, à Amazônia. O rio vem descendo até desembocar no rio Negro, nas proximidades de Manaus. A junção desses dois rio é no Brasil o rio Amazonas, que desemboca no oceano Atlântico na região de Macapá.

Desta vez vou para uma expedição científica. Uma equipe de inventário florestal, de botânica e outra socioambiental. Estou nesta última, coordenando as atividades de levantamento das condições de vida das pessoas dos municípios de Atalaia do Norte, Benjamin Constant e das comunidades ribeirinhas da Resex do Rio Jutai.

A saída está programada para esta Terça-feira, dia 19 de Abril de 2011. Sairemos num barco alugado para os pesquisadores do INPA. Serão 7 dias até chegar em Benjamin Constant. São aproximadamente 1600km em linha fluial até lá. Demora tudo isso por navegarmos contra a corrente, subindo o rio. De Benjamin, seria mais 1 dias de barco até Atalaia do Norte pelos apenas 32km de rio. Mas construíram uma estrada e o percurso pode ser feito em menos de 30 minutos. Após o levantamento nesses 2 municípios, vamos à Reserva Extrativista (Resex) do Rio Jutai, onde pretendemos visitar todas as 25 comunidades ribeirinhas. Para voltar, serão apenas 3 dias de barco.

Irei postando a experiência da viagem por aqui.



Visualizar Expedição Alto Solimões/2011 em um mapa maior



sexta-feira, 8 de abril de 2011

Mochilão Sulamérica 2006-2007: Peru

Ainda em Copacabana, no lado boliviano do lago Titicaca, tínhamos 2 opções para escolher. A primeira era pagar um passeio que sair de Copacabana, passar pelas ilhas flutuantes de Puno. A segunda, que foi a que fiz: peguei um ônibus até a fronteira com o Peru, atravessei, peguei outro ônibus até Puno e de lá ficamos esperando até a hora de sair o ônibus para Cusco.

Eu e os brasileiros (Matheus e Teoff)

No ônibus, encontrei minhas amigas cordobesas. Uma delas eu tinha tomado um fora na noite da ilha do sol. Mas a amizade já estava firmada. E foi legal conversar com elas no ônibus. Chegando em Cusco, eu e os brasileiros fomos procurar um hostel. Achamos um perto da "plaza de armas". De noite, descobrimos que Cusco é uma cidade com muita festa. Todos os dias há festas. De segunda-feira a segunda-feira. Muitas de graças e ainda se ganha um drinque. E eu, como meu chapéu, fui para a balada e encontrei minhas amigas. E, finalmente, iniciei meu "amor de viagem" com uma das cordobesas. Eu as vi em Humauaca. Falei com elas em Iruya. E depois fui encontrando ao longo dos passeios na Bolívia. As festas de Cusco estavam sempre cheias de estrangeiros. Muita bebida, drogas e rock'n'roll. No dia seguinte, tratei de fechar o pacote para o Caminho Inca (Inca's trail). Quase consegui para 7 dias depois, mas por enrolar, consegui para 8 dias depois. Paguei U$ 140,00, com direito aos 4 dias de trilha, 3 refeições e lanchinhos, entrada para Machu Picchu e retorno para Cusco de trem. Em Cusco todos os dias eu visitei alguma ruína ou museu. Às tardes, me sentava na praça e encontrava todos os mochileiros. Horas de conversa, mate, risadas. Foram dias muito agradáveis. E de noite, claro, festa!

Tardes na praça de Cusco

Em um dos dias, visitei Sacsayhuaman e as ruínas ao redor de Cusco. Em outro, tomei São Pedro comprado no mercado de Cusco. Foi horrível para o estômago.

Centro de Cusco

Eu e as argentinas

Ruínas perto de Cusco

Sacsayhuaman

Ao centro, as pedras dos Incas. As pedras desordenadas, dos espanhóis.

 
No centro de Cusco



Em outro dia, visitei o vale sagrado com as cidades de Pisac, Ollantaytambo, Urubamba. Em outro, visitei museus, bairros mais afastados. E assim se passaram os facilmente os 8 dias em Cusco. Uma cidade muito agradável e cosmopolita. A cada dia fui descobrindo novos lugares para comprar coisas, comer super barato, cantinhos da cidade. Bem legal conhecer estrangeiros e peruanos. E estar na companhia dos amigos mochileiros.

Comendo no mercado central por 2 soles



Eu os amigos argentinos (Tiago do meu lado esquerdo)

Valle Sagrado

Valle Sagrado

Valle Sagrado

Chicos de las montañas

Almoço argentino

Ollantaytambo

Templo das águas em Ollantaytambo

Pisac

























Até que chegou o grande dia de fazer o caminho inca. Na noite do dia 20 de Janeiro, me despedi da maioria dos amigos mochileiros. Boa parte deles faria o caminho inca após 7 dias de terem chegado em Cusco. Eu e os 2 brasileiros fomos os que demoramos em escolher a agência e fizemos 8 dias depois. Na despedida, fiquei emocionado e até chorei ao dizer tchau pra minhas amigas e amigos. Meu amor de viagem terminava ali também. Não combinamos nada. Apenas nos falar. Adianto que depois da viagem nos falamos e ela quis que eu fosse pra Argentina. Só pude ir em Agosto, mas ai a vida mudou e nem nos encontramos. Amor de viagem mesmo. Foi lindo enquanto durou. Na véspera do meu caminho inca, dia 21, foi um dia estranho. Sem a maioria dos amigos mochileiros. A viagem já ia caminhando para o fim. Eu paguei o passeio por uma agência diferente dos outros 2 brasileiros. Na manhã do dia 22 de Janeiro, fui ao ponto de encontro e uma van levou meu grupo para Ollantaytambo, de onde começa a trilha. Eu, 1 casal de brasileiros, 1 grupo de argentinas de Mendoza, 1 grupo de argentinas de Buenos Aires, 1 grupo de argentinas de Cordoba, 2 irmãos argentinos. Paguei menos que os meus amigos, com belas companhia e lanches toda hora! No primeiro dia de trilha, uma caminhada moderada pelas montanhas. No segundo dia, uma subida interminável. Foram muitos metros de subida. Super cansativo. Por degraus e mais degraus até chegar nos 4200m de altitude. No terceiro dia, a descida de mais de 16km. Parece mais fácil descer, mas não é verdade. É pior. Uma dor forte nos joelhos. No final do dia, eu comecei a sentir fortes dores no joelho. Paramos num alojamento onde haveria uma super janta comemorativa.



Começo da trilha

Percurso

1º dia - casal brasileiro (acima) eu e argentinas

Acampamento

Altitudes da trilha

2º dia - No pico da montanha, exausto

Confraternização no acampamento

3º dia - Muita chuva e descida

Dia de chuva

Paisagens

Os carregadores

Janta

Carregadores e mochileiros





















































O legal do caminho inca é passar pelas montanhas. O guia nos deixa bastante à vontade. Marcamos pontos de encontro e cada um segue seu ritmo. No começo, levei vários litros de água e comida. Andava com a mochilinha pesada. Sempre andando no meu passo: velocidade média ou lenta, mas sempre em frente. Sempre prestando atenção na natureza. Aos poucos, caminhar nos faz entrar em introspecção. Somos nós com nós mesmos. No terceiro dia, já com o físico cansado, não há como não refletir sobre a vida. Em muitos momentos eu estava completamente sozinho no meio daquelas montanhas mágicas. Dei-me conta que eu tinha uma família e amigos, que deveria cultivar as relações saudáveis. No fim do terceiro dia, na confraternização, um clima com as argentinas acontecendo. É incrível como essa trilha mexe com nossas emoções. E, finalmente, o 4º dia. O grande dia: Machu Picchu!


25 de Janeiro de 2007. Cheguei em Machu Picchu!

Machu Picchu

Mochileiros em Machu Picchu

Ruínas de Machu Picchu

Ruínas de Machu Picchu

Pedra energética

Do Wayna Picchu

Argentinas

os estudantes de psicologia chilenos!

Machu Picchu

Sobrevivi

Para o grande dia, reservei minha camisa andina amarela, em homenagem ao Sol. Acordamos super cedo. Mais 2 horas de caminhada ainda de noite, até chegar ao portal do Sol. É a derradeira super escalada. Eu, já com o corpo cansado, exausto e com o joelho doendo. Chega na escadaria final. Degraus muito íngremes. Fui subindo na dificuldades, sabendo que ali em cima eu veria Machu Picchu. As forças parecem brotar das profundezas do espírito. E, ali em cima, a visão da cidade sagrada! Todo o esforço valeu a pena. Uma intensa alegria invade o coração. E de repente os primeiros raios da manhã iluminam a ruína.  Caminhamos até lá, tiramos fotos. Passamos o dia todo explorando cada canto de Machu Picchu. Eu e mais algumas argentinas do meu grupo decidimos subir o Wayna Picchu. Lá, reencontrei o casal de estudantes de psicologia chilenos, que cruzei na fronteira Chile - Bolívia. Na descida de Machu Picchu para Águas Calientes, mais dor no joelho esquerdo. Já insuportável. Mas consegui. Almoçamos e pegamos o trem para Ollantaytambo. De lá, van para Cusco. No caminho, uma das moças passa mal. Cheguei em Cusco e meus amigos brasileiros ainda se animam a ir pra festa. Eu, quebrado, desisti. Dia seguinte, super cedo, eu pegaria o voo para Lima-Iquitos. Paguei U$99,00 pelo trecho todo. Uma pechincha. Foi uma belíssima despedida do mundo andino. Gostei bastante do Caminho Inca, Machu Picchu, dos companheiros e companheiras mochileiros e do mundo andino. Até a próxima! Fica a magia gravada na memória.

Chego então em Lima durante o dia dou umas voltas pela cidade. Fui ver o Pacífico, até então desconhecido para mim. Na praia encontro estrangeiros e um grupo de pessoas zen.

Lima
No mesmo dia embarquei para Iquitos, na Amazônia Peruana. Quando chego, vejo um mochileiro e logo dividimos o moto-taxi e o hostel. Na primeira noite ficamos em um hostel até carinho. Em seguida, procurei um muquifo baratinho. Eu ficaria apenas 1 dia. No dia seguinte sairia o barco que leva 4 dias para chegar até a fronteira com o Brasil. Mas, 3 dias depois, sairia a lancha rápida que faz o mesmo percurso em 1 dia, mas custa mais que o dobro. Andando por Iquitos, naquele calor forte, acabei decidindo ficar pelos 3 dias. O mochileiro era Craig, um novo zelandês que tirou 1000 dias de férias. Estava no dia 400, aproximadamente. Perguntei muitas coisas para ele de como é rodar o mundo por tanto tempo assim. Ele já havia visitado vários países. Em Iquitos, visitamos as casa flutuantes, um parque aquático, 2 tribos indígenas. E todas as noites comíamos o frango com batata fritas.

Ruas de Iquitos

Casas Flutuantes

Beira rio de Iquitos

Balneário

Eu e Craig

Tribo de Iquitos

Lancha rápida para a fronteira com o Brasil
Com o Craig aprendi a importância de se carregar menos coisas na mochila, ter um guia de viagens e porque devemos viajar. Apesar dele viajar perambulando, sem contar muito a respeito das suas viagens, senti que seria uma grande aventura percorrer o mundo com a mochila. Foi ai que começou meu sonho de percorrer o mundo com minha mochila. Iquitos fazia muito calor. Muito mesmo. Amazônia. Foi legal ver as diferentes culturas peruanas: andina, da capital e agora amazônica. O Peru é um país super interessante. Valeu muito a pena. A lancha rápida saiu cedinho e chegamos no fim da tarde em Santa Rosa, divisa com Brail e Colômbia. Atravessa-se o rio e se está no Brasil. De lá, ainda fiquei 1 noite num hotelzinho com o Craig. Encontrei com minhas amigas pesquisadoras à noite. Manhã seguinte já comecei meus trabalhos de doutorado. De tarde preparamos todas as coisas para ir à comunidade ribeirinha. Ficamos lá mais de 1 semana. Voltamos a Manaus de barco, nos 3 dias e meio de viagem. Mais alguns dias em Manuas e finalmente volto a São Paulo, num voo de R$ 215,00. Dia 13 de Fevereiro de 2007. Uma belíssima viagem. Inesquecível. No início de Março, o Craig veio por São Paulo e ficou o final de semana em casa. Levei ele numa festa universitária. E um outro pessoal levou ele para as festas eletrônicas. Ele foi embora do Brasil achando o que muita gente pensa daqui: um lugar de muita festa! E viva o Brasil!