sábado, 14 de maio de 2011

Rio Quixito

Após os dias em Atalaia, chegou a hora de continuar a expedição científica. Há diversas equipes: picada (que abre caminho na floresta), inventário florestal (que classifica as árvores), botânica (classificação mais fina), solos (para avaliação do solo), madeira caída (para verificar as madeiras caídas naturalmente), cipós (pesquisa de alguns tipos de cipó) e georreferenciamento (que transforma pontos de GPS em informações valiosas, mapas, etc.). E a minha equipe: socioambiental (para levantamento das condições sociais, econômicas e ecológicas das comunidades). Além dos cientistas, há os estagiários. E os peões, que auxiliam nos trabalhos na floresta, dirigir os botes, etc. E o pessoal do barco, que cuida da limpeza, direção do barco. E os cozinheiros, pois afinal todos nós temos que nos alimentar!

Saímos da cidade viemos subindo o rio Javari. Entramos no rio Itaquaí. E finalmente, pelo rio Quixito. Aqui é Amazônia pura. Floresta intacta. Povos autônomos. Ao longo deste rio Quixito estão 2 dos povos isolados. Um deles seria o dos Korubos, os índios caceteiros, que se estima haverem entre 1500 e 4000 deles. Logo no início do rio há um posto da Funai, controlando os navegantes. Ao se subir o rio, muitas curvas. Curvas e mais curvas. Um rio estreito. Floresta densa. O medo tomando conta da tripulação. Do lado esquerdo, esse povo isolado de caceteiros. Recomendação para não ir até a margem por nada. E do outro lado, os índios flecheiros. Ou seja: ao invés de tomarmos uma cacetada, levarmos uma flechada. Com nós estavam vindo 3 comunitários que possuíam uma propriedade com plano de manejo. Há alguns anos não iam para lá.

Chegamos ao local. A floresta com seus sons. Muitas aves cantando de manhã. E logo o lado infernal desta região se apresentou: os insetos. Muitos, mas muitos insetos. De dia o ataque do pium, um mosquitinho milimétrico preto, que tem uma picada que abre um buraco na pele e sangra. E coça muito depois. Insuportável. Há também o mucuim, um mosquitinho menor ainda, que passa por qualquer mosquiteiro e também pica que sangra, coça e incomoda. De noite, os pernilongo. Ou como chamam por aqui, carapanã. Fora as mariposas e insetos alados estranhos. Apareceu um que diziam ser mais venenoso do que cobra. Eu só durmo na rede com o mosquiteiro. Mas de dia, com o calor, uso repelente, que parece durar apenas alguns minutos. Estou cheio de picadas de pium e de carapanã.

O pessoal que entrou na floresta diz ter ouvido uma onça pintada. Ela só ataca a pessoa de costas, se estiver sentindo-se ameaçada. Ou se estiver com fome. De frente, a onça não ataca. Por aqui ouvimos vários relatos de onças. Os 3 comunitários são caçadores. Numa das noites, entraram na floresta. Descalços!! É muita coragem para mim. E trouxeram uma paca. Carne boa e macia.

Estes dias, eu não entrei na floresta. Apenas fiquei trabalhando no barco. Tomei banho de rio. Li bastante. Dias de repouso. Pratiquei kriya yoga e os exercícios tibetanos, que agora tenho feito diariamente. Os rapazes pegaram açai na floresta. Fresquinho é uma delícia. E também pescaram. Comer peixe fresco é outra coisa.

Sobre a saúde, boa parte dos tripulantes já teve problema de diarréia, devido à água que utilizamos ser do rio e está cheia de microorganismos nocivos. A água para beber é mineral, mas a que tomamos banho, lavamos os alimentos e escovamos os dentes é essa do rio. Eu cheguei a ter um princípio dessa doença, mas meu organismo resistiu, graças a Deus. Quando ataca, é febre, diarréia, indisposição geral. Um dos rapazes teve que abandonar a expedição, pois não havia remédio que o curasse.

E assim vão se passando os dias. Na convivência com as quase 40 pessoas deste barco. Sem internet. Energia racionada e que funciona só quando o motor está em atividade. Há os altos e baixos. Atritos e risadas. Tudo em nome da ciência.

Voltamos hoje para Atalaia do Norte. Folga após esse tempo todo de expedição. E semana que vem vamos a mais uma semana de floresta. Voltamos no Sábado para Benjamin Constant. E Domingo desceremos para Jutai.

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