terça-feira, 10 de maio de 2011

Comunidade Ribeirinha: Palmari

Palmari é uma das poucas comunidades ribeirinhas de Atalaia, cuja população é não indígena. Muita gente por aqui faz questão de diferenciar-se do índio, por acreditar que esses andam pelados, são atrasados e têm costumes estranhos. Muita gente no estado do Amazonas fica profundamente ofendido em se mencionar qualquer característica que lembre a herança genética e cultural indígena. Mesmo que se venha para cá e se veja na fisionomia das pessoas a herança genética (muita gente de pele morena escura, cabelos pretos lisos, olhos pretos e puxados), não gostam de serem chamados de "caboclo". Esse seria o termo que gente de outras parte do país usam para se referir a essa mistura entre os migrantes europeus e os índios. Pois bem, por aqui em geral é uma ofensa.

E não é diferente na comunidade de Palmari. Eles se consideram brasileiros, amazonenses. Caboclo ou índios, nunca.

A característica que diferencia essa comunidade ribeirinha de outras é que há um hotel de selva nele, montado por um estrangeiro. Ele recebe, em sua maioria, turistas colombianos que vêm de Leticia (cidade colombiana). Passam alguns dias por ali, onde são levados a terem experiências na selva: ver jacaré, andar nos igarapés, entrar na floresta, ver os botos nadando, animais silvestres. Mas acontece que o dono está em rivalidade com a comunidade, pois não quer lhes repassar benefícios financeiros recebidos pelo turismo. O líder comunitário entrou até na justiça para haver seu direito. E parece que conseguiu. Além disso, ele mesmo está montando um hotel concorrente. Claro, para gerar lucro para sua família e para os demais comunitários.

Fiquei 2 dias por aqui, conversando com as pessoas. Comendo frutas amazônicas diferentes. Tão diferentes que nem lembro os nomes. Tomando açai tirado na hora da palmeira. Tomando caldeirada de peixe recém pescado. Ouvindo histórias de gente simples, lendas de sereias, seres encantados e animais da floresta. Relaxando no convívio familiar de famílias de interior, que vive na modéstia e na alegria de estar neste ambiente chamado Amazônia.

O detalhe foi que no Sábado, véspera do Domingo dia das mãe, a prefeita de Atalaia, acompanhada de seus assessores e de muitos brindes, veio até a comunidade de Palmari. E eu, o representante do INPA, pois a equipe florestal estava em seu ambiente de trabalho: a floresta. Ap_ós os inúmeros discursos político, chegou a minha vez de discursar, em nome da ciência e do progresso. Falei do projeto de levantamento da dinâmica do carbono da floresta, do REDD (redução de emissão por desmatamento e degradação florestal) e da novíssima moda internacional: a floresta ser mais valiosa financeiramente de pé do que derrubada. Tudo em um linguagem acessível aos comunitários. Fiz a minha parte: os políticos, com seus interesses, já me perguntando quando de dinheiro ganhariam com suas terras preservadas. Os comunitários me dizendo "a gente vive aqui e sabe o que é esta riqueza. Porque pobre mesmo, são eles". É por momentos que me sinto revigorado com o trabalho.

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