sábado, 4 de junho de 2011

Resex do Rio Jutai - Rio Riozinho

Jutai fica onde o rio Jutai desembolca no rio Solimões. As águas pretas que se misturam com as águas barrentas. O espetáculo do encontro das águas. As belas paisagens amazônicas, que máquina fotográfica nenhuma consegue captar. Pelo menos, ainda não consegui tirar uma foto que mostrasse a beleza deste lugar incrível. Aqui o pôr-do-sol é o que me chama mais atenção. No momento em que o dia está para terminar, o sol vai baixando e o céu inteiro fica colorido. Onde o sol está se pondo as cores são mais vivas. E do lado oposto do horizonte o céu também está colorido. Tudo fica colorido. É um espetáculo lindíssimo cada dia que se vai. E cada noite, repleta de estrelas, também é uma obra prima do Absoluto.

E assim vamos desfrutando da magia amazônica. Subimos pelo rio Jutai até o momento em que desemboca o rio Riozinho. Subimos pelo Riozinho até chegar às comunidades da RESEX (Reserva Extrativista) do rio Jutai. Aqui começou a segunda etapa de nosso trabalho. A parte mais legal e interessante, porque finalmente estaríamos conversando com o povo simples das comunidades rurais amazônicas. Os famosos ribeirinhos.

Chegamos em Monte Tabor, com suas 17 casas. Ali, naquelas águas pretas, o povo vive da pesca e agricultura. Vidas simples. Famílias numerosas. Mulheres tendo filhos a partir dos 13 ou 14 anos. E muitos filhos. Vidas sofridas. Mas vidas tranquilas. A maioria quase absoluta não trocaria essa vida pela cidade. No meio urbano é preciso emprego, dinheiro e muito mais. Ali eles vivem do que a natureza lhes dá.

Visitamos as comunidades da margem esquerda do Riozinho: Monte Tabor, Cristo Defensor, São Bento, Nova Esperança, Bacabal, Novo Cruzeiro, Vila Efraim, Bate Bico, Vila Cristina. São comunidades que surgiram a partir do momento em que foi plantada a Santa Cruz. O fundador dessa religião é o irmão José, um mineiro que um belo dia teve algumas visões e saiu pela América do Sul plantando uma cruz, ensinando o povo a ler a Bíblia e a seguir um regulamento. Em minha tese de doutorado eu já havia estudado uma comunidade que segue a Cruzada, como também nomeiam os comunitários. Há até uma igreja que se parece com um castelo em 2 delas.

E a cada casa que entramos para fazer nosso trabalho, uma história de vida. Algumas emocionantes. Outras peculiares. Há aquelas que relatam vidas sofridas. Também ouvimos a respeito dos conhecimentos de plantas e ervas medicinais. Histórias de onça, cobra, jacaré e outros bichos da floresta. E claro, do movimento religioso que fundou essas comunidades, mas que no momento muitas delas já abandonaram a crença, deixando que a Santa Cruz caia no esquecimento. Em apenas 2 delas as regras ainda vigoram. Lá as meninas não puderam circular a não ser de saia e manga comprida!

Minha equipe tem sido trabalhadora. As duas empenhadas no trabalho e ouvindo as histórias desse povo simples. E assim a gente vai aumentando nossa bagagem e conhecimentos a respeito do povo brasileiro. Um país tão grande que muitas vezes parece até um continente. Aqui mesmo estamos na Amazônia do Alto Solimões, que boa parte dos brasileiros só conhecem pela televisão, têm opinião formada, sabem o que fazer com ela, mas que nunca pisaram nestas terras, florestas e rios. Não sabem que aqui há uma diversidade cultural enorme. Que há mais do que apenas índios pelados. Aqui vivem os amazonenses, o povo das águas e da floresta. Gente simples e batalhadora, que sofre com o esquecimento governamental, mas que vem sobrevivendo com o esforço do suor na agricultura, pesca, caça, extrativismo e coleta. O benefício maior mesmo, na minha opinião, é estar mais próximo do ritmo da natureza. Conhecer a força de lua, em suas fases. A força do verão e do inverno amazônico. A força do vento e das águas. A força da terra. A força das frutas, em suas épocas. A força dos animais.

Tivemos que voltar até Jutai porque houve casos de malária diagnosticados na tripulação. Todos fizemos exames e apenas 03 estão doentes. Outros ainda com suspeita da doença. Eu, graças a Deus, melhorei do resfriado que já durava 03 semanas. Nas comunidades pude comer várias frutas amazônicas, especialmente o açai tirado na hora. A comida no barco é o de sempre: arroz, feijão e farinha d'água (feita da mandioca e prato típico do amazonense), acompanhado de carne de vaca ou frango. Às vezes há peixe para todos, recém pescados no rio. Almoço e janta sempre iguais. Estou tomando multi-vitamínico. E meu café da manhã diferenciado, devido a eu ser celíaco: apenas coisas de milho, mandioca e nada de açúcar. E assim venho vivendo esta vida de pesquisador na Amazônia.

Em breve subiremos novamente o rio Jutai e Riozinho para concluir as comunidades. Depois, vamos ao Rio Jutai, onde há outras comunidades. E final do mês acaba o trabalho. Ainda muito rio a percorrer.

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