sexta-feira, 6 de maio de 2011

Tauaru

Após trabalhar duro aqui na cidade de Benjamin Constant, mais um dever a cumprir. Tudo começou em 2006, quando vim fazer uma pesquisa com o pessoal da UFAM. Visitei algumas comunidades ribeirinhas da zona rural do município de Tabatinga, aqui na fronteira tríplice Brasil - Peru - Colômbia. Foi essa a primeira vez que pisei na Amazônia e me encantei. Logo decidi fazer minha tese de doutorado por aqui. E nesta região distante, pois poucos pesquisadores se aventuram a enfrentar longas distâncias em nome da ciência e bem-estar da população.

Por aqui, eu e mais 2 amigas pesquisadoras escolhemos uma comunidade especial para nossos estudos: Tauaru. As duas fizeram suas dissertações de mestrado. Eu fiz minha tese de doutorado. Vim para cá durante 4 anos. Enfrentei 7 dias de viagem de barco de Manaus até Tabatinga. E mais horas de canoa a motor para chegar na comunidade ribeirinha. O jeito dos ribeirinhos é bem simples. Pessoas vivendo na simplicidade. Um dia após o outro. Todas as vezes que vim para cá, me questionei sobre meus valores. Dar importância ao que de fato tem importância: a vida, a família, a natureza, Deus. O resto, são todos detalhes.

Finalmente, após concluir meu trabalho e defender a tese, voltei para cá. Compromisso social. Ética. Cumprir minha palavra. Vim entregar uma cópia da tese. Reencontrar os amigos tão queridos. Eu já havia me tornado parte das famílias daqui. E tudo acontece como mágica na vida das pessoas. Naquele mesmo dia, eles estavam trabalhando e comentaram a meu respeito. Disseram que estavam com saudade e que eu nunca mais apareci. E não é que meia hora depois eu apareci ali, em carne e osso, na frente deles? Vejam só a força da palavra. E a sintonia entre pessoas com alguma conexão.

Foram apenas 3 dias que pude deixar meu trabalho para visitar a comunidade. Mas foram ótimos dias. Convivência mais do que revigorante. Calor dos amigos. Sentir a força da amizade. O respeito. A vida simples. Gostei bastante. Conversar com todos, contar as novidades, matar a saudade.

Pronto, cumpri com minha palavra e dever de pesquisador. Estou feliz com isso.

Para voltar, uma peregrinação. Saímos às 7h30 numa canoa com motor 9HP, em 8 pessoas. E só chegamos em Tabatinga 14h50. Aquele sol forte na cabeça. Sede e fome. Claro, eu levei meu lanchinho e compartilhei com eles. Depois, uma lancha até Benjamin Constant, de apenas 20 minutos. E mais moto-taxi até Atalaia do Norte, em 30 minutos. Para a segunda parte do trabalho por estas cidades.

Um comentário:

Michele Wesz Andres disse...

Lindo teu trabalho, Marcelo. Mas este trecho do teu relato me emocionou: "Dar importância ao que de fato tem importância: a vida, a família, a natureza, Deus. O resto, são todos detalhes." Claro que tudo o que aprendeu durante teus longos anos de estudo até a conclusão do doutorado foram muito válidos mas esta frase diz tudo e é só isso que realmente importa nessa vida... Que Deus te abençõe nessa longa jornada!