quarta-feira, 25 de maio de 2011

Santo Antônio do Içá

Saímos bem cedo de Benjamin Constant, descendo o rio Solimões durante todo o dia. Agora à noite paramos em Santo Antônio do Içá, umas simpáticas cidades do Alto Solimões. A navegação por este rio é só para navegadores muito experientes. Muito, porque apenas navegadores acabam batendo em troncos no rio e capaz até de afundarem a embarcação.

Durante a semana passada acabei por pegar um resfriado. Aqui na Amazônia o clima é sempre quente. Ao contrário do que mostram os telejornais editados no sudeste do país, as estações equatoriais não são as mesmas que a das demais regiões do globo. Há o inverno amazônico, que corresponde à época das chuvas. No Alto Solimões é entre Dezembro e Junho. Isso representa enchente e cheia também. O pico da cheia é em Maio. Portanto, as notícias sensacionalistas de que está tudo alagado é apenas para telespectador desinformado pensar que a natureza está em revolta. Aqui todo ano enche. Alguns anos enche mais do que outros. As pessoas que vivem à beira dos rios constroem suas casas em palafitas, com umas distância razoável do solo. Uma tecnologia antiga, desde os povos indígenas mais antigos. O verão aqui vai de Julho a Novembro, com o pico da estiagem em Setembro. E faz mais calor do que o normal, pela falta de chuva. É a melhor época para pesca, pois há menos água para onde os peixes podem nadar. Quando a televisão mostra que o país está entrando no outono e depois no inverno, isso não se aplica à região norte. Essa falta de divulgação das diferenças regionais deixa o povo daqui triste, pois é como se a cultura e condições locais não existissem para o resto do Brasil. Isso porque a Amazônia representa cerca de 60% do território nacional...

Pois bem, nesse calor todo, qualquer vento mais gelado faz a gente se resfriar. À noite também esfria levemente, principalmente se chove. Explico-me: a temperatura desce para uns 25ºC!! De dia, em torno dos agradáveis 35ºC. Um destes dias estava muito quente, pra variar. E numa das noites choveu. E eu e mais algumas pessoas nos resfriamos. E demora dias para nos curar. Agora, após 1 semana, estou quase bom já.

No barco a parte mais difícil está por vir. Nesta região amazônica não há variedade de verduras. Primeiro porque o solo não permite agricultura extensiva, apenas a familiar. Ou seja: comprar em larga escala não dá. Segundo, não chegam os alimentos das outras regiões do país até aqui. Portanto, ficaremos sem verduras em breve. Frutas há algumas. E estou procurando comer o que posso. Vamos ver como será daqui em diante.

Estou feliz por este trabalho. A primeira parte da viagem já foi. Agora inicia-se a segunda, onde visitaremos inúmeras comunidades ribeirinhas da RESEX (reserva extrativista) do rio Jutai. Boa parte da tripulação já virou uma grande família. Claro, há sempre maior afinidade entre certas pessoas e certos grupos. Eu procuro me relacionar da melhor maneira possível com todos. Trocamos ideias, comidas, risadas e experiências. E por essa razão esta expedição é uma coisa que ficará marcada em nossas vidas para sempre.

Nenhum comentário: