sábado, 7 de maio de 2011

Atalaia do Norte

Cheguei em Atalaia do Norte e, por bem, minha equipe já havia adiantado boa parte do trabalho. Assim que cheguei por aqui, vindo de moto-taxi pela rodovia de 26km de comprimento, percebi que a cidade era bem pequena. Mas bem pequena mesmo. Chega-se da rodovia por uma rua que dá na praça. Da praça, uma rua que desce por 2 quarteirões até uma outra praça na beira do rio Javari, em que há uma estátua enorme de São Sebastião flechado. Teria sido flechado pelos índios? E ali termina a cidade. Claro, há umas ruas perpendiculares que cortam essa rua principal. E apenas 2 restaurantes.

Logo o barco chegou e me juntei ao pessoal da expedição. Vi que haviam muitos índios por ali. Atalaia do Norte é um município com área bem grande, sendo parte dele ocupado por uma Terra Indígena. Para se chegar até essas terras é preciso vários dias de viagem em um bote com motor comum e mais de 1 dia em lancha com motor potente. Nela habitam 5 etnias diferentes: Marubo, Matses, Matis, Kanamarí e Kulina. Podemos ver esses índios na cidade, pois eles vêm atrás do auxílio governamental dado pela FUNAI. Nos dias em que estive por aqui, tive a chance de ver esses índios. Parecem indigentes, por andarem descalços, com roupas velhas e rasgadas, aparentarem serem bem pobres. E de fato o são. Nota-se uma diferença entre eles pelo tipo de adornos e pinturas que usam no rosto. Muitos deles chegam aqui e não voltam para suas terras. Ficam que nem mendigos pela cidade. Aqui pertinho da cidade há também algumas malocas construídas para os turistas visitarem os índios. Visita nas suas comunidades mesmo é proibido aos brasileiros comuns. É contra a lei. Mas, se um gringo se aventura a ir até uma tribo, ele não está infringindo a lei. Ou seja, para os "civis" brasileiros, a regra é bem mais dura que para os estrangeiros.

Há aqui relatos de tribos isoladas. Segundo um indigenista, já não se fala em isolados, mas em "povos autônomos". São os índios Korubo, ou caceteiros, como são conhecidos por aqui. Caceteiros porque matam os invasores com uma cacetada na cabeça. E matam também os filhos defeituosos, gêmeos e qualquer variação que seja contra o "natural". Dizem que são canibais também. Há muitas lendas em relação a eles, bem como muito medo pela população local. Um grupo dissidente da nação Korubo fez contato com os brancos. Foi com uma comunidade que tem apenas 2 casas. E conta-se que esse índios mataram em recente episódio 5 ribeirinhos. O chefe desse grupo é uma índia, que possui 2 maridos. Quando ela foi parir, teve complicações e veio até a cidade. Nessa ocasião, uma parte da população estava revoltada, querendo vingança. E, por esse motivo, o governo federal armou uma operação de guerra, digna de filme norte-americano, para levá-la até o hospital e trazê-la de volta à região de floresta. Helicópteros, lanchas, policiais com rifles, televisão. Tudo conforme o figurino, para que as autoridades internacionais vejam o empenho brasileiro em defender esses povos autônomos. Tudo em nome do show.

Eu fiz minhas comprinhas de artesanato indígena. Seguindo a idéia que tive junto com minha amiga, a mochileira incurável Aline, de comprar coisas de todos os lugares do mundo para adornar minha casa.

Além dessa característica indígena desta cidade, posso dizer que é um município super precário. Distante de tudo. Com pouquíssimos serviços. Falta médico. Falta psicólogo. Falta tudo. Há altos índices de malária na região, diarréia pela água não tratada e hepatite, daquelas que se pega do contato que 2 pessoas têm em sua intimidade. Ou seja, aqui faz jus à fama das guerreiras amazônicas. E fomos isso que vivenciamos por aqui. Mulheres que atacam descaradamente. Sem vergonha nenhuma. Sem pudores. A tripulação da expedição, em sua maioria masculina, logo percebeu isso. E o rendimento do trabalho caiu, pois parte dos rapazes caiu na farra durante as poucas noite que passamos por aqui. As mulheres atalaienses atrapalhando o progresso científico!

Ficamos por aqui apenas alguns dias. O barco aqui na sede municipal. Mas fomos também para uma comunidade ribeirinha não indígena. E eu fui.

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