quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Dicas mochilão na Índia (parte 4 de 5)

AGUENTAR OS PRIMEIROS 3 DIAS. Há anos uma amiga foi pra Índia e me contou que ao pisar lá, quis pegar um voo de volta imediatamente. Por sorte, cruzou com um grupo de brasileiros que a levaram a um hotel. E ali ela se acalmou e aguentou o tranco. Falei isso para uma outra pessoa que foi pra Índia e sentiu o grande choque e quis voltar imediatamente. Aguentou os primeiros 3 dias e seguiu viagem. Eu tive essa dica em mente constantemente. Ao chegar, logo somos bombardeados por um mundo diferente: confusão generalizada, imundice aguda, poeira, cheiro de xixi em vários lugares, gente te olhando fixamente, poucas pessoas falando inglês, gente querendo te enganar, medo de comida te causar diarreia. Enfim, aguentamos firme os primeiros 3 dias e foi fundamental.



LÍNGUA. O inglês é a língua dos viajantes. E umas da línguas oficiais da Índia. Em tese, tudo resolvido para a comunicação. Mas chegando na Índia, poucas pessoas falam inglês fluente nas ruas. Logo que chegamos, pegamos o trem saindo do aeroporto rumo ao metrô. No primeiro guichê até falavam inglês. Depois, ao pegar o metrô, ali senti que o bagulho seria doido. Não falavam inglês! E eu ainda inseguro em falar meu inglês com sotaque. Acabou que consegui achar o local certo para pegar o token do metrô. E fui seguindo o aplicativo do metrô em Delhi. E também a ótima sinalização dentro da estação. A maioria das pessoas fala o básico de inglês para você comprar e comer. E com aquele sotaque bem carregado. Demora uns dias até acostumar os ouvidos para o inglês indiano. Aprendemos também as palavras básicas em hindi, o que agrada o povo local: olá (namastê), grato (dhanyavaad - dã-nê-vá), não (nêi), sai fora ou vamos embora (tchalô tchalô).



PESSOAS TE OLHANDO FIXAMENTE (SECANDO). Não tem como você achar que vai passar desapercebido. Todo mundo saber que você é gringo. O povo indiano fica olhando pra gente fixamente. Às vezes isso é estranho, agradável, engraçado, constrangedor. Não tem como fugir. Tem horas que a gente se sente igual esses astros do rock ou ator famoso de novela passeando no centro de Recife. Depois de um tempo, a gente foi aprendendo a lidar com isso e não cruzar olhar com as pessoas. Especialmente a Fernanda, que por ser mulher tem homem que interpreta isso como dando bola. Mesmo eu estando do lado!

MASCULINIDADE DO INDIANO: BEIRANDO O REPULSIVO. Chega a ser nojento como os homens indianos tratam as mulheres turistas. Beirando ao desrespeito mesmo. Li relatos de mulheres viajando sozinhas. E teve o que vi pessoalmente acontecendo. Na minha avaliação, deve ser bem difícil as mulheres estarem sob o alvo de paqueradores e tarados o tempo todo. Eu com a Fernanda do lado, muito homem olhava descaradamente paquerando e até com cantadas. Era como se não pudesse ser simpática em momento nenhum, para não interpretarem errado. Com o tempo, aprendemos a lidar com isso e não reforçar as investidas dos indianos. Já com as indianas, boa parte dos homens aparenta ter algum respeito nas ruas. Apenas aparências, porque se sabe de estupros coletivos, do menosprezo ao trabalho feminino na vida para além daquela doméstica. A grande maioria das mulheres tem vida doméstica. As poucas trabalhando fora de casa têm menores salários e reconhecimento. Nas grandes cidades isso é diferente. Em Jodhpur, já no terceiro terço da viagem, conversamos com meninas de Delhi, de classe média. E elas se impressionando e dizendo que tinham lido nos livros a gente dizendo da desigualdade com as mulheres. Nos comércios, a grandíssima maioria era homem. Nas ruas andando, também. Já nas vielas de bairros residenciais, mulheres e crianças nas ruas. Enfim, é o que vi e percebi que falta muito para a humanidade reconhecer que a mulher não é nem inferior, nem superior ao homem.

VESTIMENTA - ROUPA INDIANA. Aqui no Brasil, roupa indiana é roupa de hippie. Sejam aqueles hippies sujos, sejam os hippies de butique. Nas ruas da Índia, as indianas não vestem essas roupas. Elas ou vestem as roupas ocidentais igual uma mulher andando na av. Paulista. Ou a grande maioria veste a roupa típica indiana: sari algumas casadas e o kurti as demais. A Fernanda logo procurou vestir essas roupas típicas, que cobrem a curva dos quadris e os ombros. E os homens usam roupas ocidentalizadas. Ninguém usa essas roupas de hippie. O turista, para se sentir mais indiano, acaba comprando essas roupas de hippie. Eu resisti por dois terços da viagem. Depois precisava de roupas extra e também para mostrar aos amigos brasileiros que eu estava "ambientado". Então comprei umas camisas de hippie. Se eu for recomendar, tal qual li e me recomendaram: usamos sempre roupas confortáveis e "comportadas". Ou seja: nunca mostrando partes ou silhueta do corpo. E em alguns momentos, o feedback positivo veio: usar roupas típicas indianas aos olhos indianos (especialmente a mulher), e não necessariamente aquela roupa de hippie, é um sinal de respeito ao povo indiano. Portanto, não é afrontando com nossa vestimenta que vamos impor nosso modo de ser e nossas crenças de certo e errado a um outro povo. E e Fernanda não temos problemas de autoestima em vestir-se de acordo com os hábitos locais, abandonando nossos próprios costumes temporariamente - ou até definitivamente.


 





SUJEIRA, ÁGUA, COMIDA E REMÉDIOS. Chegamos e fomos lidando com a confusão, sujeira, cheiro ruim nas ruas e etc. Então chegou a hora de comer. E lá vem o momento de enfrentar o que todos dizem ao vir à Índia: se prepare para desarranjo intestinal. Primeiro restaurante que procurei, um gringo indicou dizendo que lavavam os alimentos com água potável. Pedimos um thali, o PF dos indianos. Tinha umas verdurinhas cruas. Ficamos na dúvida em comer. Mas comemos. Depois não comemos mais, como conto logo a seguir. A comida já é super picante, mesmo eles dizendo que não tinha pimenta. Com o tempo fomos acostumando com o picante. Sempre é picante. Então pedir sem pimenta é vir uma comida normalmente picante. Pedir picante, é vir comida super picante! Teve um dia que veio uma picante e eu simplesmente não consegui comer até o fim. Depois de 4 dias, eu fiquei com uma diarreia por 1 dia. Não comprometeu os passeios e nem tive que sair cagando em qualquer lugar. Tomei o probiótico que levei do Brasil e melhorei. No dia seguinte que eu melhorei, a Fernanda teve uma infecção alimentar. Ela ficou 1 dia no hotel. O dia seguinte, só nas redondezas para poder voltar ao hotel correndo caso a caganeira atingisse ela de surpresa. Por sorte tive auxílio de um médico logo na noite desse primeiro dia, que me recomendou uns remédios simples e ela foi melhorando. A gente estava em Kolkata. Caso contrário, teria que acionar o seguro de saúde e ter ajuda de médico. Meus remédios brasileiros ajudaram na recuperação. Ela ficou meio doente mais uns 3 a 4 dias. Sem comprometer os passeios. Então resumindo: costuma-se ter o choque intestinal por causa da água diferente, da comida super temperada indiana, do estresse, da sujeira. Tudo misturado, dá um revertério na pessoa. Durante toda viagem, passamos a não comer mais vegetais crus. Somente cozidos. E sempre mantivemos a dieta vegetariana, abundante na Índia. E assim tudo acabou correndo bem. Comida muito gostosa! Apesar de picante. Voltando pro Brasil, senti falta de picante. E passei a colocar um pouco no meu prato.

Ainda da sujeira: vejam que na foto do ovo frito com batata frita tem um inseto frito...

E das nossas refeições: desjejum eram cereais que eu comprava (às vezes foi difícil achar) com frutas que a gente lavava. Sempre comíamos em 2 tapperware que a gente levou. Item obrigatório aos mochileiros! Quebra um super galho. E com talheres de plástico duro que pegamos na cia aérea. E agora nossos novos itens de viagem. Almoço era em geral thali. E janta, uma sopinha ou um combinado de pratos independentes que comprávamos (tipo: arroz, mistura de vegetais, outra mistura de vegetais). Mas tem muitas opções de comida. E tem as comidas do sul da Índia, todas muito gostosas. Então foi fácil para um intolerante ao glúten sobreviver. Aprendi a falar que não queria o pão (chapati ou roti) e que colocassem mais arroz. Ou a perguntar se o alimento tinha trigo. Como a culinária indiana tem muita lentilha, grão de bico e outros vegetais, foi bem fácil.


 
 
 



COMÉRCIO: TE ENGANANDO 100% DO TEMPO - PESSOAS FALANDO CONTIGO NA RUA. Em todos lugares li a advertência de que os indianos tentam te enganar o tempo todo no comércio. E até mesmo em serviços públicos. Nem para um guarda na ferroviária se deve confiar. Desse jeito o prognóstico parece terrível, né? Se você está andando na rua e gratuitamente alguém vem falar contigo para te dar uma dica ou te alertar de onde ir ou não ir, altamente provável que queira te levar para um comércio dele (ou conhecido dele) onde ele vai ganhar uma porcentagem da venda, como se fosse uma comissão. Isso aconteceu com a gente no começo. Depois, mais calejados, simplesmente recusávamos veementemente alguém interrompendo nossa caminhada ou intenção de ir a algum destino. Aprendemos a simplesmente não responder às perguntas que as pessoas nos faziam nas ruas. Isso eu tinha aprendido no Oriente Médio: o cara do outro lado da rua me chamando gritando, gesticulando com as mãos, como se tivesse chamando um cachorro. Então aprendi: se alguém pergunta, quem é que disse que eu sou obrigado a responder? É aprendendo a responder somente ao que a gente quer que vamos ganhando autonomia. Pois bem, na Índia muita gente vinha querer puxar papo, inicialmente como se fosse uma pessoa gente boa querendo saber do estrangeiro, mas em seguida querendo te empurrar pra alguma loja ou desviar do destino. Ou te colocar medo dizendo para não ir para tal lugar. Ou dizer que aquele lugar não existe. Simplesmente passamos a ignorar completamente. Como se não estivesse falando com a gente mesmo. Já se a gente era quem estivesse procurando ajuda ou puxar papo, a coisa já era diferente. A gente sente totalmente a diferença do tom da conversa quando a gente quem procura. Então ai está a dica: puxar conversa quando a gente procura a interação ou quando sente que de fato não é ninguém enganando. No comércio, como as coisas raramente têm o preço anotado, tudo funciona na base da barganha. Eles sempre vão estar lucrando. Então eu sempre quero também achar que estou saindo ganhando. Em geral, eles sempre começam a falar o preço umas duas ou 3 vezes mais do que realmente vale. Isso é pra tudo: roupas, acessórios, comida, ônibus, tuk tuk. Tem vezes que é um saco. Outras meio divertida. Algumas raras lojas as coisas têm preço. Ali é simplesmente pagar e levar. Caso contrário, vai ter que gastar uns minutinhos na barganha. E muitas vezes pagar bem mais do que realmente vale. Uma dica valiosa: compre algumas coisas se estiver escrito em algum lugar o preço. Tipo pacotes turísticos ou alguns serviços. Comida na rua, claro que só se tiver menu. Abaixo eu conto o motivo.






TELEFONE CELULAR NA ÍNDIA - SIMCard (CHIP) INDIANO. Antes de viajar, procuramos bastante se havia algum chip internacional que funcionasse na índia. E a gente acabou comprando o Easy 4 You. Os comentários de quem usou na Europa eram maravilhosos. Pagamos uma grana pelo chip, que chegou em casa e foi ativado nos dias da viagem. E simplesmente foi a maior roubada do século! Dinheiro jogado no lixo. Simplesmente cheguei na Índia e a internet funcionava muito, mas muito mal. Horrível. Deu raiva até pelo dinheiro jogado fora. O plano era ter esse SimCard num celular. E no outro, eu compraria um SimCard indiano. Foi o que fiz. Pesquisei e vi que valia mais a pena eu comprar um chip da AirTel. No aeroporto de Delhi, assim que chegamos, queriam nos cobrar 1000 rupias por um chip com plano de internet 1GB por dia, ligações ilimitadas e roaming sem cobrança, por 30 dias. Dai fomos para o centro (Pahar Ganj) onde nos hospedamos e procurei uma loja. E os caras venderam um pacote de 28 dias (eu precisaria de 33 dias), nessas mesmas condições, por 600 rúpias. Achamos que não estávamos sendo enganados. Então começou o primeiro problema: a internet 4G não funcionava bem no meu celular. Fui reclamar na loja. O cara tentando de tudo e aparentemente tinha resolvido. Dia seguinte, continuava não funcionando bem (whatsapp funcionava, mas navegar não). Dai digitei o modelo de meu celular (samsung J7) e o nome da operadora, no google, via wifi do hostel. E vi que eu precisava fazer uma configuração especial. Depois que segui os passos da configuração especial, o 4G funcionou uma beleza!! Funcionava super bem. Muito melhor que o melhor 4G no Brasil. E eu ainda tinha 1GB por dia. Nem eu subindo um monte de fotos, vídeos e etc. por dia, eu chegava perto do consumo diário. De fato, funcionava muito bem o 4G da AirTel. Muito bem mesmo. Depois, em outras lojas, vi o cartaz da AitTel com os preços promocionais do mês de dezembro.2017. E vi que o plano que paguei 600 custava uns 150 + 100 pelo chip. Ou seja, se eu tivesse procurado um pouco mais e visto o cartaz com o preço que tinha em um monte de loja, eu teria pagado o preço justo. E foi assim que fomos aprendendo a só pagar algumas coisas se o preço tivesse escrito. Bom, ao final dos 28 dias, meu plano acabou. E eu precisava colocar uma recarga de pré-pago. Eu estava em outro estado. Então as recargas eram bem caras. Por sorte aqueles dias eu me virei bem com wifi. Dai voltei para Delhi para o final da viagem. E coloquei recarga para mais uns dias de internet 1GB/dia: 99 rúpias. E eu usava muito o 4G. Para pegar Uber ou Ola Cabs. Para baixar mapa e usar o GPS e me localizar. Para pesquisar lugares onde ir. Para ver dicas no TripAdvisor. Para postar fotos nas redes sociais. Enfim, foi super útil. E ai que vi que a Índia era um país emergente: uma rede de telefonia celular e internet boa.














TRANSPORTE: USE UBER OU OLA CABS. A época do taxi está de dias contados. Não mais depender da exploração dos preços que eles colocam. Não mais ter que ouvir aqueles comentários altamente reacionários sobre política ou sobre o trânsito. Agora imagine isso ao nível indiano e dos tuk tuk (o famoso motorbike rickshaw). Era a coisa mais nojenta e repulsiva do mundo ter que negociar preço com os motoristas de tuk tuk. Para um indiano, o trecho custaria 20 rúpias. Para o turista, ele começava em 300 e provavelmente ficaria em 150 ou 100 numa barganha épica. Os caras do tuk tuk definitivamente estão fora da sintonia mochileira. Para nossa salvação, há Uber e Ola Cabs na Índia. E em abundância. O primeiro mais em cidades grandes. O segundo na maioria das cidades, mas precisa de um número de celular indiano. Apenas em alguns lugares não tinha e tivemos que nos sujeitar às barganhas desleais com os tuk tuk. Por isso que comprei o chip indiano. Foi fundamental usar Ola Cabs. Só a título de exemplo: em Agra (cidade do Taj Mahal), um tuk tuk associado ao hostel ofecereu um pacote durante o dia, em que ele nos levaria para 3 lugares turísticos, por 650 rúpias, já após a barganha. Claro que o despistei e ele ficou com raiva. Mas até ai, cada um com seus problemas e com os sentimentos que cultiva em seu coração. Pois bem, por Ola Cabs os 3 trechos custaram no total 120 rúpias. Muito desproporcional. Por isso seja esperto e use esses app! O Ola Cabs tem opção de carros compartilhados, carros sozinho, carro maior, carro de luxo e até tuk tuk. Simplesmente ótimo.















O QUE FAZER E ONDE IR: ONDE PESQUISEI. Previamente eu já tinha lido o Lonely Planet para saber o que fazer e onde ir em cada cidade. Mas outras coisas eu pesquisei no app do TripAdvisor. Graças a isso eu descobri que em Jaipur havia a chance de andar de elefante. Pesquisei as agências que faziam, entrei em contato por whatsapp e fechei o passeio. Foi fantástico! Um amigo mochileiro me disse que muitos viajantes estão já usando somente o TripAdvisor. Eu ainda acho o Lonely Planet bom, porque diz também como faz para ir e vir das cidades. Outra dica é usar o site ClearTrip, para pesquisar os tickets de trem, de avião, hospedagens. Em geral eu pesquisei ali e depois comprei o trem diretamente no IRCTC. Para ônibus, muitos indianos têm usado o app do RedBus. Os 3 trechos que andamos de ônibus, eu consultei por esse site os preços e horários.




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