terça-feira, 5 de maio de 2015

Cacoal - 1º Soeitxawe

Na manhã do dia 30, peguei o ônibus e dormir praticamente a manhã toda. Alguns passageiros era haitianos migrando para outras regiões do país em busca de alguma oportunidade de vida. Aos que acham que eles devem voltar para seu país, digo: se você não é indígena, é porque teve sua origem de migrantes também, então seja acolhedor, e não ingrato.

Ao longo da estrada, fui reparando a triste constatação: tudo ao redor da rodovia estava destruído. Eram campos e mais campos de gado. A valiosa floresta rondonense já foi derrubada em mais da metade de sua cobertura original. Horrível constatar o modelo de desenvolvimento vindo de outra região, que considera a floresta com atraso e que lucrativo mesmo é o grande latifúndio e agronegócio. E isso está na mentalidade de muita gente. Já são muitos cientistas mostrando que o clima de outras regiões do país dependem da floresta daqui.

Enfim, cheguei 15h00 em Cacoal. Logo fui para o Hotel Açai Palace encontrar com minha amiga Simone. Após conversarmos e darmos umas voltas pela cidade e logo conhecer Cláudia e Kachia, as organizadoras do 1º Soeitxawe (lê-se roeitchavé). Também conheci Alessandra e mais uma turma da Bahia.

Dia seguinte, começou o evento organizado em parceria com o povo Paiter-Surui, que aconteceu na associação Metareilá. Logo vi que era um povo bastante receptivo. Fizeram várias apresentações culturais. E as que mais achei interessante foram as atividades que eles ministraram para os acadêmicos. Esse foi o tom dos 3 dias de evento. Aprendi muito com esse povo, que foi o primeiro no mundo a fazer uma parceria com a google e colocar a floresta em 3D para qualquer pessoa no mundo explorar pelo computador. Além de várias parcerias com empresas e ONG internacionais, como forma de proteger a floresta. E também um dos povos que fez contratos REDD de crédito de carbono.

Isso tudo, dentro do plano de 50 anos que eles têm para o povo deles, que são um exemplo para toda a humanidade. Eles são muito avançados nessa noção de futuro. Nos anos 1969, com a chegada do processo de ocupação da Amazônia do governo da época, foi feito o contato com eles. Dos quase 5000, restaram apenas 290. O restante morreu de doenças trazidas pelo não indígena. Hoje eles são em 1250, aproximadamente. E com esse plano de 50 ano, penso que vão conseguir recuperar o contingente populacional perdido. Mas mais do que isso: com a floresta de pé e lucrando com isso. Eles não estacionaram em sua cultura. Estão em processo de transformação, querendo acompanhar o resto da sociedade.

No dia 4, fomos até uma das aldeias. Mais de parece com uma comunidade rural igual outras: casinhas de alvenaria ou de madeira. Tudo muito simples. Com cultivo por agrofloresta e permacultura. Tudo de modo sustentável. Tive contato com o pajé e foi uma experiência muito enriquecedora.

Enfim, volto transformado. É preciso ter um plano de futuro. Viver o hoje, mas ligado com a transmissão de valores e com o mundo que queremos deixar para os que virão. E isso esse povo está fazendo e ensinando para o resto da humanidade.

Legal mesmo foi comprar alguns artigos do senhor mais velho da etnia, com 99 anos, mas atirando flecha, pulando, cantando e fazendo graça! E de um outro de 92 anos, com a mesma vitalidade. O segredo? Produtos sem agrotóxicos e nem industrializados...

Peguei o bus noturno para Porto Velho. Cheguei de manhã e fui para o aeroporto. Na hora do almoço estava em Manaus novamente.



































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